Duas mulheres e um homem acusados de participar de uma chacina ocorrida em março de 2019, em Fortaleza, devem sentar no banco dos réus. O trio foi pronunciado, ou seja, foi decidido que sejam submetidos a julgamento, pela 2ª Vara do Júri da Comarca de Fortaleza. A sentença foi publicada no dia 30 de abril deste ano e publicada no Diário da Justiça do último dia 3 de maio.
Conforme a decisão, Edgly Dutra Barbosa, o “Dudeca”, Ana Karolina de Sousa Xavier, a “Karol” e Fernanda de Andrade Rabelo participaram de duas ações criminosas simultâneas. A primeira resultou nas mortes dos irmãos Heryaldo Bezerra da Silva, Francisco Welton Bezerra da Silva e Francisco Wellington Bezerra da Silva e o pai deles, João Ferreira da Silva.
Em outro imóvel próximo, a quadrilha raptou João Paulo Fernandes da Silva, filho de Heryaldo da Silva, e o colocou em um carro. Horas depois, o corpo dele foi encontrado carbonizado, dentro do automóvel, em Maracanaú.
“A materialidade do delito está devidamente comprovada e, após a regular instrução probatória, constatou-se a existência de indícios suficientes de que o acusado Edgly Dutra Barbosa ("Dudeca") supostamente teria sido o mandante do crime em comento, enquanto Ana Karolina de Sousa Xavier ("Karol") e Fernanda de Andrade Rabelo, em tese, teriam concorrido para a prática do crime previsto no art. 121, § 2º, incisos I e IV, do Código Penal fornecendo informações acerca das vítimas”.
Briga entre facções
A motivação do crime, conforme a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), foi a briga pela venda de entorpecentes entre os integrantes de uma facção criminosa de origem cearense e outros homens que fazem parte de um grupo oriundo do Rio de Janeiro, mas com forte atuação no Ceará.
Os autores da chacina são indicados na denúncia e na sentença de pronúncia, as quais a reportagem teve acesso, como membros da facção cearense. Já as vítimas seriam integrantes da facção carioca.
Além das duas mulheres e de Edgly Barros, o 'Dudeca', Wanderson dos Santos Freitas, o 'Vanvan', também foi denunciado pelas mortes. No entanto, ele foi impronunciado pela Justiça por falta de provas.
Segundo o MPCE, João Paulo e o pai dele, Heryaldo, seriam ligados a facção carioca e já tinham tentado matar 'Dudeca', com o objetivo de tomar o domínio do tráfico de drogas em Maracanaú. Na ocasião, três pessoas foram mortas.
Desde então, a família de João Paulo começou a receber ameaças de morte e precisou se mudar de Maracanaú para o bairro Mondubim, em Fortaleza. Mesmo com a mudança, a família foi encontrada.
Ana Karolina, que é sobrinha de 'Dudeca', e a amiga dela, Fernanda Rabelo, segundo o Ministério Público, realizaram levantamentos sobre a rotina das vítimas, passando de carro na região, no dia anterior à chacina. Depois da vigilância, elas passaram as informações para os executores do plano.
Mortes na madrugada
No dia 29, por volta das 3 horas da madrugada do dia 29 de março de 2019, na Rua Luiz Gonzaga, bairro Mondubim, em Fortaleza, os acusados e outras pessoas a bordo de um veículo do tipo SUV, de cor branca, seguido por um veículo Renault, de cor preta, bateram o primeiro veículo contra o portão da residência de João Ferreira da Silva.
Narra ainda a denúncia que "mediante uso de uma espécie de marreta", o grupo arrombou o portão e invadiu a casa. Os acusados atiraram e mataram Heryaldo Bezerra da Silva, Francisco Welton Bezerra da Silva, Francisco Wellington Bezerra da Silva e João Ferreira da Silva. Conforme o MP, os denunciados planejavam matar todos os homens da família, mas não conseguiram, pois os irmãos João Paulo Fernandes da Silva e João Pablo Albuquerque da Silva não estavam em casa no momento do crime.
João Paulo morava a poucas casas dali e João Pablo dormia na casa de sua namorada. João Paulo foi capturado em casa e jogado no porta-malas do veículo, modelo Honda Civic, de cor prata. Mais tarde, naquele mesmo dia, o corpo foi encontrado carbonizado em Maracanaú. O cadáver foi reconhecido pela mãe dele.
Após a matança, Pablo passou cerca de um mês escondido na casa de amigos e escapou de uma nova tentativa de homicídio, no dia 12 de abril do mesmo ano.
Prisões
Dos três acusados pronunciados, apenas um permanece preso, “Dudeca”. As amigas “Karol” e Fernanda tiveram as prisões preventivas substituídas por medidas cautelares em abril de 2020.
A defesa dos réus não foi localizada pela reportagem. No processo, eles alegaram inocência e pediram pela impronúncia do trio. Ainda cabe recurso da decisão de pronúncia.