PF prende empresários do tráfico internacional de drogas

Durante a 'Operação Cardume', 26 pessoas foram detidas. O bando movimentava R$ 6 milhões por mês

Vinte e seis integrantes da maior quadrilha de tráfico internacional de drogas com atuação no Estado, atualmente, foram presos, na manhã de ontem, pela Polícia Federal (PF), no Ceará e Rio Grande do Norte. A 'Operação Cardume' foi deflagrada em outros sete Estados onde a organização, comandada por dois empresários, tinha articulações. Segundo Janderlyer de Lima, titular da Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Decor), desta vez a ação atacou a raiz do bando que movimentava cerca de R$ 6 milhões por mês.

>Investigações descobriram a venda de liminares no TJCE

A operação aconteceu no Ceará, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. Foram expedidos 15 mandados de prisões preventivas, 13 de prisões temporárias, 22 de condução coercitiva e 54 de busca e apreensão, além de sequestro de bens móveis e imóveis e bloqueio de 118 contas bancárias de pessoas físicas e jurídicas.

No Ceará aconteceram 21 prisões. Dentre elas, a do homem apontado pela PF como responsável pelo esquema criminoso aqui. Cícero de Brito é empresário no ramo da construção civil e era um dos principais alvos da operação. Além dele, o outro pilar da organização seria o empresário potiguar George Gustavo da Silva, preso em Natal.

As investigações começaram em outubro de 2013. Na época, a pessoa que a Polícia acreditava ser o chefe do tráfico, era na verdade um subalterno dos dois empresários. No entanto, Lindoberto Silva de Castro, acabou dando nome à ação policial. "Ele usava uma empresa de piscicultura para lavar dinheiro, por isso acabou nomeando a 'Operação Cardume'. Com o aprofundamento das investigações vimos que ele não era tão grande assim", afirmou Jarderlyer Lima.

Teia criminosa

A cocaína negociada pelo bando vinha da Bolívia e a maconha do Paraguai. Aqui dentro do Brasil havia uma teia montada para a movimentação do dinheiro e da droga. "A cocaína saía da Bolívia em aviões de pequeno porte para o Mato Grosso e o Mato Grosso do Sul. Lá entrava em ação o núcleo de logística, que enviava a droga para o Ceará e Rio Grande do Norte, em caminhões. Os entorpecentes vinham para cá acondicionados nos tanques de combustível e até nos eixos dos veículos. Daqui, a droga era enviada para a Europa, principalmente para Portugal e Itália. Enquanto isso, um outro núcleo, que agia em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, era responsável pela lavagem do dinheiro. Parte dos lucros era lavada no Uruguai, que é uma espécie de paraíso fiscal na América Latina", disse Lima.

Conforme o titular da Decor, a quadrilha movimentava cerca de 300Kg de cocaína por mês. Cada quilo custa cerca de R$ 20 mil reais. Mesmo agindo durante anos, os suspeitos conseguiam passar despercebidos. "Eles passaram ao largo das ações da Polícia, se utilizando de uma das principais características da quadrilha, que era corromper agentes públicos, como os próprios policiais", disse Lima.

Apreensões

Desde o início das apurações foram apreendidas mais de uma tonelada de cocaína, 21 quilos de maconha, 1,3 tonelada de fenacetina (insumo químico utilizado no refino da cocaína). Além disto dois laboratórios de crack foram desmontados no Ceará e um em Portugal. O delegado lembra que a atuação da quadrilha na Europa ia além da exportação. Junto com sócios portugueses e espanhóis, George Silva e Cícero Brito teriam montado um laboratório de refino de cocaína, na cidade de Setubal, no litoral português.

"A cocaína chegava lá em garrafas de cachaça. Foram enviadas 660 garrafas, com 50 quilos de cocaína, mas os traficantes de lá não sabiam extrair o entorpecente do líquido e foi preciso um brasileiro que dominava a técnica ir até Portugal. Foi aí que nós o seguimos e conseguimos desmontar o laboratório. Além dele, um português e um espanhol foram presos", declarou Lima.

A prisão aconteceu com apoio da Polícia de Portugal. Os suspeitos ficaram sob custódia no País europeu. "Quando descobrimos até onde iam os negócios dele, não dá para negar que nos espantamos. Era um esquema audacioso, de uma logística impressionante", contou o delegado.

Janderlyer Lima afirmou que empresários de diversos ramos foram presos, ontem, principalmente do setor farmacêutico, construção civil, revenda de veículos e donos de haras.

Insumos

Erisvaldo Graça Souza, titular da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), disse que ao longo das investigações três empresas do setor farmacêutico, desviaram cerca de cinco toneladas de fenacetina para o tráfico. "Cada 500Kg de fenacetina custa 33 mil reais. Eles adquiriam para fins legais, mas acabavam vendendo para os traficantes por mil reais o quilo. A compra deste anestésico é controlada, mas os químicos faziam burlas fiscais imensas para conseguir sempre mais", explicou.

Fora as pessoas presas hoje (21 em Fortaleza e cinco no Rio Grande do Norte), Erisvaldo Souza disse que outros 30 integrantes do bando já tinham sido capturados durante quase dois anos. O material da organização criminosa apreendido pela Polícia no mesmo período, já representava um prejuízo de cerca de R$ 20 milhões. "Era um negócio lucrativo. Apreendemos veículos de luxo durante a operação e quase uma tonelada de fenacetina", salientou.