Justiça começa a ouvir testemunhas da morte de PM confundido com suspeito e morto por colega de farda

O cabo da PM havia reagido a um assalto e correu em direção a uma viatura de plantão para pedir ajuda, quando foi alvejado pelo colega

Após quase seis anos do caso, a Justiça cearense começa a ouvir em abril as testemunhas de acusação no processo da morte do cabo da Polícia Militar Paulo Alberto Marques Albuquerque. Ele foi morto a tiros por um colega PM após ser assaltado e correr em direção a uma viatura para pedir ajuda em agosto de 2018 no bairro Parangaba, em Fortaleza. 

O acusado é o soldado Marcus Jullierme Lessa Gonçalves, réu por lesão corporal qualificada na Vara da Auditoria Militar do Estado do Ceará. O crime é previsto no artigo 209 do Código Penal Militar, e pode gerar de 1 a 4 anos de prisão, caso seja culposo, ou seja, sem a intenção de matar. 

No próximo dia 4 de abril serão inquiridas as testemunhas de acusação, convocadas pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE). A oitiva ocorre a partir das 14h30 na sala de audiência do Fórum Clóvis Beviláqua. 

Segundo a denúncia, o rol de testemunhas conta com três pessoas, incluindo um sargento da PMCE e um morador do bairro que avisou que a pessoa baleada era um agente de segurança. O Diário do Nordeste solicitou ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE), mais informações sobre os trâmites processuais do caso, e aguarda retorno. 

À época de sua morte, o cabo tinha 33 anos. Ele era lotado no Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur), de acordo com as forças de segurança. 

PM reagiu a assalto antes de morrer

Conforme a peça acusatória do MPCE, na noite do 28 de agosto de 2018, o cabo Paulo Alberto Marques estava de folga e havia reagido a um assalto e trocado tiros com suspeitos na região da Lagoa da Parangaba. 

Ele se desvencilhou da ação, mas teve a moto levada, momento em que avistou uma viatura e correu, com sua arma em punho, na direção do veículo para pedir ajuda aos policiais de plantão. 

O soldado Jullierme estava na viatura e efetuou três disparos, sendo que somente dois atingiram seu colega de farda: um no tórax, que perfurou o pulmão, e outro na perna, que quebrou o fêmur. 

Após os disparos, um morador da região gritou para avisar que a pessoa atingida era um policial militar. A composição policial verificou a identidade e o socorreu ao Frotinha da Parangaba, mas posteriormente o cabo foi transferido ao Instituto Doutor José Frota (IJF) no Centro, por conta da gravidade de seu quadro de saúde. O Sistema Verdes Mares noticiou o caso à época: 

O caso ocorreupor volta das 23h20 do dia 28 de agosto de 2018, Paulo Alberto Marques morreu no IJF por volta das 4h30 da madrugada seguinte, após não resistir aos ferimentos.

Soldado achou que PM era suspeito

Segundo o documento de apresentação espontânea do soldado Jullierme, ele depôs que se deparou com uma "ocorrência de um homem efetuando disparos, inclusive ouviu uns dois disparos, tendo avistado o autor realizar o segundo disparo para a direção contrária ao da viatura". 

Ele declarou que a pessoa, descoberto depois ser o cabo da PM, "estava à paisana e caminhava no mesmo sentido da viatura, quando ouviu a voz de parada, correu em direção à composição".

O Diário do Nordeste não conseguiu localizar a defesa de Jullierme, Ele continua na ativa da PMCE, conforme dados do Portal da Transparência do Governo do Ceará. 

O soldado informou ainda que antes de efetuar os disparos visualizou uma equipe do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRAIO) na região, e achou que eles fossem os alvos dos disparos ouvidos anteriormente — que foram feitos pelo cabo na reação ao assalto que ele sofreu —.

Um dos policiais do Raio, o 1º sargento José Rogério da Silva Pereira, prestou depoimento informando que patrulhava com sua equipe na Parangaba quando ouviu disparos de arma de fogo e seguiu o barulho. 

"Durante o deslocamento, escutou mais alguns disparos, mais não sabe precisar quantos tiros, ao adentrar na Rua Joaquim Moreira, no bairro Parangaba, deparou-se somente com uma pessoa do sexo masculino ao solo e uma viatura da polícia militar. Foi informado que a vítima era policial militar. Que a composição que estava inicialmente no local providenciou o socorro da vítima", diz trecho da denúncia do MPCE. 

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