Uma sequência de golpes contra uma clínica de psicologia em Fortaleza resultou na investigação e prisão de uma mulher, supostamente envolvida nas práticas criminosas. Na última semana, a ex-funcionária do estabelecimento, identificada como Orlandina Paixão Nery Magrini foi detida.
Daniel de Castro Macedo, outro investigado pelas fraudes e que também já atuou na clínica, segue foragido da Justiça. Só o prejuízo da empresa teria chegado ao valor aproximado de R$ 20 mil.
De acordo com a acusação, os crimes teriam acontecido de 2017 a 2019. A proprietária da clínica teria descoberto as fraudes que, conforme ela, prejudicou não só a empresa, mas também os pacientes. O Ministério Público do Ceará (MPCE) requereu a prisão dos investigados "pelos indícios contundentes da prática dos delitos de estelionato, apropriação indébita, falsidade ideológica e furto qualificado".
Procurados pela reportagem, os advogados Leandro Vasques e Gabriellen Melo que representam os interesses da clínica vítima das fraudes afirmam que: "primeiro se reconheça o compromisso apuratório do Ministério Público e a diligente atuação da Delegacia de Defraudações e Falsificações pela investigação de fôlego dedicada ao caso e também pelo empenho para a decretação da custódia dos fraudadores. Estamos confiantes que em breve o outro infrator também será preso e ambos prestarão contas com o Judiciário que não hesitou em decretar-lhes a prisão preventiva".
COMO AS FRAUDES ACONTECIAM
De acordo com a investigação, Daniel e Orlandina se aproveitavam das função que exerciam dentro da clínica para induzir pacientes ao erro, mediante fraude. "A maioria deles padecia de frágil condição psicológica, em virtude de doenças mentais das mais diversas, o que os colocava em condição de vulnerável aos ataques do golpista – ao simular compras de produtos que eram vendidos pelos clientes, chegando a enviar comprovantes de transferências falsos àqueles, a título de pagamento", conforme a assistência de acusação.
Há relatos que o ex-colaborador tentou enganar a própria dona da clínica. Ela vendeu o aparelho telefônico iPhone X, no valor de R$ 4.000,00 (quatro mil reais) ao funcionário. No entanto, na hora do pagamento ele enviou comprovante falso de transferência bancária. O valor supostamente transferido nunca chegou a ser recebido na conta corrente vítima.
A proprietária da clínica conta que também foi descoberta uma fraude no sistema de informática da empresa, "com o objetivo de alterar as modalidades de consultas agendadas no sistema (plano de saúde, particular) para apropriar-se indevidamente do dinheiro proveniente das consultas particulares e das consultas dos projetos sociais".
INVESTIGAÇÃO
Em setembro de 2019 foi instaurada a investigação, na Delegacia de Defraudações e Falsificações, a partir do comunicado da notícia-crime feito pelos advogados Leandro Vasques e Gabriellen Melo. A delegada Mércia Marília Mendes Ribeiro presidiu o inquérito e solicitou a prisão da dupla. Em outubro de 2022 o MP emitiu parecer favorável à prisão.
Após posicionamento do órgão acusatório, em março de 2023 a juíza da 11ª Vara Criminal da Comarca de Fortaleza decretou a prisão dos investigados afirmando que: "ao analisar a prova indiciária produzida nos autos do presente inquérito policial, até o presente momento, podemos perceber fortes indícios de autoria, elementos fortes que indica para os acusados".
"Para mais, o termo de Declaração das vítimas, aponta com certa presteza e segurança de ser os acusados, as pessoas que praticaram o referido delito contra ela. A materialidade do crime em evidência é irrefragável ante os depoimentos das vítimas e das testemunhas, os quais espancam qualquer dúvida nessa quadra, disso não se olvida".
AS DEFESAS
A advogada de Orlandina diz nos autos que a suspeita trabalhou durante quatro anos na clínica e "tornou-se funcionária de extrema confiança". A reportagem entrou em contato com a advogada Lise Pinheiro Coutinho e o advogado Mayko Renan Carlos de Alcântara, que ainda acrescentaram que a suspeita "foi atraída ao processo mesmo sem nenhum indício minimamente seguro de sua participação nesse lamentável crime".
"Este caso demonstra a necessidade de profunda reflexão sobre um sistema de justiça criminal que muitas vezes é tido como benéfico aos infratores, mas que em tantas outras obriga alguém inocente a enfrentar o calvário de uma acusação absolutamente injusta e desprovida de provas, ao qual será demonstrado em momento oportuno nos autos da ação penal a sua inocência", segundo a defesa da presa.
Já a defesa de Daniel, que está foragido, pediu revogação da prisão preventiva por medidas cautelares alternativas à prisão e alega ausência da contemporaneidade. O pedido, no entanto, foi negado pela Justiça.