Um relatório elaborado pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), a partir da análise do aparelho telefônico de um dos principais líderes da facção criminosa Guardiões do Estado (GDE), estima que o grupo possui, atualmente, mais de 25 mil membros.
Conforme o documento, quatro facções atuam no território cearense, mas a GDE cresceu de forma desordenada e "domina a maioria dos bairros de Fortaleza, no comando das áreas do tráfico de drogas". Segundo as próprias autoridades, disputam territórios para atividades ilícitas, além da GDE, o Primeiro Comando da Capital (PCC), sua aliada; o Comando Vermelho (CV), rival de ambos; e a Família do Norte (FDN), parceira desse grupo criminoso carioca.
De acordo com o sociólogo Luiz Fábio Paiva, do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), o número de integrantes da facção é “substantivo” e “expressivo”, mas deve ser observado com maior atenção, uma vez que é relativo.
“Acredito que isso possa até ser maior porque, além desses que são efetivamente batizados, um dos fenômenos que não são contados são os de simpatizantes. São pessoas que ainda não fazem parte, mas estão na expectativa de fazer, e as facções têm conseguido agregar, renovar seus cargos, até mesmo as lideranças”, explica o professor.
Na visão do pesquisador, o governo apostou muito na prisão de lideranças com a ideia de que estaria vencendo os grupos criminosos. “Essa vitória nunca chega. Ela é muito mais uma farsa, uma história que se conta para tentar aliviar o temor das pessoas”. Para Luiz Fábio, as facções continuam muito fortes, com domínio territorial e até ocupando espaços de condomínios inteiros nas periferias cearenses.
“O poder público não tem conseguido entender e não entende porque não escuta, faz segurança pública baseada em ideias policialescas”, diz o especialista.
Novas ações
A maior parte das lideranças da Guardiões do Estado está presa, especialmente os membros da Sétima Coluna, que concentra os principais líderes e fundadores do grupo, e os conselheiros finais.
A resposta à força da facção começou a ser dada pelas autoridades de segurança após a chacina das Cajazeiras, maior matança já registrada na história do Ceará, cuja execução foi patrocinada por integrantes da GDE. Catorze pessoas foram mortas na casa de shows Forró do Gago, no dia 27 de janeiro de 2018, mas, até agora, quase três anos depois, não há qualquer previsão para julgamento.
As ações se intensificaram após os ataques promovidos pelas organizações criminosas contra o Estado, em janeiro de 2019, a partir da nomeação do atual secretário da administração penitenciária, Mauro Albuquerque. O assassinato dele, inclusive, foi preterido por líderes da facção, e as tratativas foram identificadas por setores de inteligência das autoridades de segurança pública.
Segundo o professor Luiz Fábio Paiva, a GDE “possivelmente aprendeu com todos os enfrentamentos tanto contra as outras facções, quanto com o governo”.
Uma das dificuldades do grupo criminoso sempre foi a sua estruturação, por outro lado, os faccionados conseguiram agenciar muitos jovens para fazer parte dos seus quadros. “É difícil precisar onde ela ainda tem uma organicidade, e onde as pessoas não estão organizadas e ainda são da GDE”, contextualiza.