A ex-aluna da Universidade Estadual do Ceará (UECE), que denunciou um professor do curso de História da Instituição por importunação sexual, prestou depoimento à Polícia Civil do Ceará (PC-CE) sobre o caso, em Quixadá, na Região do Sertão Central, na tarde desta segunda-feira (4). Um irmão da vítima, que recebeu mensagens do suspeito pedindo o contato da jovem, também foi chamado para depor.
Os depoimentos foram colhidos na Delegacia de Defesa da Mulher de Quixadá quatro dias depois de a vítima registrar Boletim de Ocorrência (BO) na Polícia Civil, para denunciar mensagens de cunho sexual que recebe do seu ex-professor, nas redes sociais, desde o ano passado. Outras diligências também são realizadas pelos policiais civis.
A bacharela em História contou ao Diário do Nordeste que, no período em que estudava no Campus de Quixadá, o docente oferecia chocolates e sorvetes a ela, que nunca aceitou. Em 2020, durante a pandemia de Covid-19, o professor começou a utilizar as redes sociais para enviar mensagens para a ex-aluna com declarações de "amor", que não foram respondidas. E passou a comentar em publicações com fotografias do filho da vítima que geraram constrangimento para a mesma.
No ano passado, as mensagens "amorosas" passaram a ter conteúdo sexual. "Oi, linda, lindinha, lindona de minha vida, estou maluco para estar convosco. Quero fazer tudo com você que tenho direito, como um homem loucamente", "Linda demais. O que faço para tê-la?" e "Nenenzinha de meu coração, acordei hoje com tanta vontade de te c* todinha, todinha mesmo" foram alguns dos textos enviados.
Depois de ignorá-lo e não surtir efeito, a jovem partiu para outra estratégia: "Eu dei um basta. Falei que não aceitava esse tipo de coisa, que nunca fiz nada que pudesse justificar essa atitude dele, que eu exigia respeito e que ele parasse."
Eu o bloqueei das redes sociais, mas ele começou a entrar em contato com os meus familiares. Mandou mensagem para dois irmãos meus, para pedir o número do meu telefone. Enviou solicitação de amizade para minha mãe e solicitação de amizade e de mensagem para meu filho, menor de idade. Então, além do assédio, tem a perseguição."
Denúncias às instituições e medo de sair de casa
A ex-aluna denunciou o caso à Universidade Estadual do Ceará, através do site da Ouvidoria da Instituição, na última terça-feira (29), e comprovou o registro à reportagem. Entretanto, procurada no último sábado (2) para comentar o caso, a UECE informou que "até esta data (sábado), não há registros de denúncia por parte da ex-aluna, de forma que somente neste momento tomou conhecimento da questão".
"O registro formal de denúncia nas instâncias competentes da Universidade é necessário para imediata abertura de sindicância para apuração dos fatos e encaminhamento das providências cabíveis", afirmou a UECE, em nota.
A Reitoria da Universidade Estadual do Ceará destacou ainda que "tem forte compromisso com o combate ao assédio sexual e à violência contra a mulher e conta, desde 2017, com Núcleo de Acolhimento Humanizado às Mulheres Vítimas de Violência (NAH/Uece) para acolhimento e acompanhamento de mulheres vinculadas à Uece que estejam em situação de violência".
Já na última quinta-feira (31), a bacharela em História registrou Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia de Defesa da Mulher de Quixadá. A Polícia Civil confirmou que investiga uma denúncia de importunação sexual contra uma mulher de 30 anos.
Enquanto soluções não são tomadas, a ex-aluna tem medo até de sair de casa. "O que ele faz é um crime, que tem gerado inúmeros transtornos na minha vida. O medo de não sair de casa. Eu só saio acompanhada dos meus irmãos ou do meu pai. No meu trabalho, tem prejudicado, porque eu não posso mais usar as redes sociais para fazer propaganda do meu trabalho como professora, por medo dele ter acesso e continuar me assediando", revela.