A atuação de um 'sniper' (atirador de elite), que salvou um bebê feito refém pelo próprio pai, armado, em uma farmácia em Fortaleza, no último domingo (25), ganhou repercussão nacional. Entretanto, o uso do "tiro de comprometimento" é o último recurso do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), da Polícia Militar do Ceará (PMCE), em ocorrências com refém. O trabalho policial também envolve estratégia, posicionamento e negociação.
O Bope é um Batalhão do Comando de Policiamento de Choque (CPChoque). "O Decreto 33.398/2019 atribui aos ativos da Polícia Militar ocorrências envolvendo reféns localizados. E a Polícia Militar atribui ao Batalhão de Operações Policiais Especiais, através de diretriz operacional, o atendimento desse tipo de ocorrência. Assim como pessoas com ideação suicida com arma de fogo e ocorrências envolvendo bombas e explosivos", afirma o comandante do Bope, major Paulo Cézar.
A equipe do Bope acionada para uma ocorrência com refém conta com policiais negociadores, táticos e 'snipers'. O comandante detalha que "a equipe de negociação policial veste o uniforme de cor azul, porque, segundo um estudo da cromoterapia, essa cor tem uma tendência maior a diminuir o estresse. Esses policiais têm o curso de Negociação Policial e têm formações acadêmicas, como Psicologia e outros cursos de saúde. É uma equipe multidisciplinar, que busca dissuadir o indivíduo, através da barganha e das técnicas de negociação".
"Já a intervenção tática utiliza técnicas letais e não letais. Sempre que possível, o gerente da crise vai aplicar essa alternativa. E os snipers são responsáveis por observar a ocorrência, são a inteligência do gerente da crise, responsáveis por proteger a equipe e neutralizar a agressão", complementa.
ocorrências com refém ou ideação suicida foram atendidas pelo Bope, em 2023 e 2024. Em todo o ano passado, foram 18 episódios. Neste ano, em dois meses, já foram 8 casos. O Batalhão atende ocorrências na Capital, Região Metropolitana de Fortaleza e também no Interior do Estado. Se for necessário, o deslocamento é realizado com apoio de aeronaves da Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas (Ciopaer), da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS).
O Diário do Nordeste acompanhou um treinamento realizado pelo Bope, a partir de uma simulação de uma ocorrência com refém, na última quinta-feira (29). Assista ao vídeo:
A última medida: o 'tiro de comprometimento'
O tiro efetuado pelo subtenente Mendes, atirador de elite da Polícia Militar do Ceará, contra um homem que mantinha refém o próprio filho, um bebê, em uma farmácia no bairro Vila Velha, em Fortaleza, no dia 25 de fevereiro último, foi a última medida de uma intervenção do Batalhão de Operações Policiais Especiais.
O suspeito já havia atirado contra a companheira, a assistente social Amanda Reinaldo - que morreu na última quarta-feira (28), após três dias internada. Segundo o integrante do Bope e comandante do Time de Atiradores de Precisão, capitão Ramos, a equipe policial tentou negociar com o suspeito, "contudo, o 'sec' (denominação para o suspeito), pela tipologia, não ia se render e estava na iminência de causar a morte da criança".
"Dentro dessa situação, o gerente da crise visualizou que não teria mais tempo e deu o sinal verde para o 'sniper'. O 'sniper' efetuou o tiro, que não foi para neutralizar, e sim para incapacitá-lo momentaneamente (ao acertar a mão que segurava a arma de fogo). O time tático avançou e fez a rendição do 'sec'."
Ramos conta que os 'snipers' passam por um curso de formação para entrar em um Batalhão de Operações Especiais e mais 2 meses em um curso especializado para atiradores de elite.
A precisão do subtenente Mendes lhe rendeu um elogio formal do secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Samuel Elânio, na última quinta-feira (29). "Um trabalho de excelência que salvou uma vida, isso ficará para a história. Quem sabe um dia essa criança terá a honra de conhecer o homem que salvou a vida dela", declarou o secretário.
"Somos uma ferramenta, na verdade, a Polícia Militar, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e o Estado, fizeram o seu papel. Com a ajuda de Deus, conseguimos trazer uma resolução aceitável. Nos bastidores, isso envolve o trabalho de muita gente, que nos permite entregar o nosso melhor. Com todo o treinamento e a logística necessária, conseguimos chegar em uma ocorrência e entregar o nosso máximo. Estamos sempre à disposição da sociedade", respondeu Mendes.