'Ele falou que não sabia nadar', diz mãe de jovem encontrado morto sem colete após ajudar instrutor

Corpo de adolescente de 15 anos foi localizado nesta terça (6) na Praia do Meireles, em Fortaleza

A funcionária doméstica Márcia Maria Lima Caetano, mãe de Adersson Freitas Nascimento Filho, adolescente de 15 anos encontrado morto nesta terça-feira (6) por nadar sem colete após ajudar um instrutor de caiaque na Beira-Mar de Fortaleza, comentou que o falecimento do filho foi uma "punhalada pelas costas", pois ainda tinha esperanças de vê-lo com vida.

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, Márcia afirmou que o jovem teria informado ao instrutor que não sabia nadar. Segundo ela, o corpo foi localizado próximo ao Mercado dos Peixes, no bairro Meireles. A tia do adolescente que fez o reconhecimento no Instituto Médico Legal (IML).

A mãe reforçou que Adersson e os amigos dele não eram alunos do instrutor, identificado como Renan Cunha Alves, e não estavam praticando caiaque no mar. O homem teria pedido apenas para que ele e os amigos empurrassem o caiaque para ajudá-lo a entrar no mar. "E aí, por curiosidade, acho que eles pediram pra entrar", contou a familiar da vítima.

Conforme Márcia, o instrutor teria dito para que o filho e os outros adolescentes que estavam com ele na praia nadassem "que nem cachorrinhos" até a faixa de areia, mas Adersson teria afirmado que não sabia nadar.

"Ele não é gente, ele é um monstro. O meu [filho] falou que não sabia nadar. Ele disse assim 'vocês sabem como cachorrinho nada? Então vocês vão nadar que nem cachorrinhos até a orla'", relatou.

A mãe afirmou ainda que Renan Cunha mandou os jovens descerem do caiaque porque senão ele levaria multa. Um dos adolescentes que conseguiu se salvar pediu socorro para encontrar os outros. 

"Meu filho veio com os amigos. Eles sempre vinham pra praia. Quando foi 15h eu liguei, e mandei ele ir pra casa cedo, e ele só falou 'relaxa, mãe, vai dar certo'", relembra.

'Matou uma criança e destruiu uma família'

Márcia lamentou a perda de seu segundo filho e comentou sobre o instrutor do caiaque, Renan Cunha Alves, apontado como a pessoa que teria mandado Adersson nadar sem colete até a faixa de areia.

"Foi uma pancada, uma punhalada pelas costas. A gente tinha esperança de encontrar ele com vida, mas infelizmente Deus levou. Ele foi encontrado próximo ao Mercado dos Peixes. A tia dele que fez o reconhecimento porque eu estou sem condições", disse a funcionária doméstica.

Conforme a família de Adersson, o corpo só deve ser liberado na quarta-feira (7), e não poderá ser velado em casa, devido ao estado do corpo. Amanhã, deve ser liberado direto para o sepultamento no Cemitério do Bom Jardim.

Só uma mãe sabe a dor de perder um filho, não é o primeiro, é o segundo. Você matou uma criança e destruiu uma família
Márcia Maria Lima Caetano
Mãe de Andersson

O homem chegou a ser preso por tentativa de homicídio no último domingo (4) por agentes do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPtur), mas foi solto no dia seguinte. 

Ainda de acordo com Márcia, Renan Cunha teria enviado para ela e alguns amigos de Adersson solicitações para seguir no Instagram, na tentativa falar com eles.

Diário do Nordeste tentou entrar em contato com a família do instrutor de caiaque Renan Cunha Alves, mas como resposta foi informado que "não faria comentários" sobre o caso. O DN também tentou contato com a defesa do instrutor, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.

Entenda o caso

O adolescente desapareceu no último domingo (4), após sair para se divertir com amigos. O jovem se afogou após um professor de caiaque dizer para ele e os amigos retornarem à faixa de areia sem o equipamento protetivo.

Em nota, o CBMCE disse que uma guarnição de mergulho resgatou o corpo na Praia do Meireles. A vítima foi vista por tripulantes de uma embarcação, conforme a corporação. 

"Após o resgate, realizado por meio de moto aquática, o corpo foi entregue à Polícia Militar do Ceará (PMCE) e à Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), que realizarão os procedimentos cabíveis para identificação e investigação das causas da morte. O CBMCE se solidariza com a família e amigos da vítima e se coloca à disposição para prestar todo o apoio necessário", diz nota.

A área onde o jovem desapareceu é de responsabilidade da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF). As buscas haviam sido suspensas após às 17h dessa segunda por conta falta de luminosidade. A operação retornou 6h desta terça-feira. 

Instrutor foi solto em audiência de custódia 

O instrutor de caiaque, Renan Cunha Alves, chegou a ser preso por tentativa de homicídio ainda no domingo por agentes do Batalhão de Policiamento em Áreas Turísticas (BPtur) mas foi solto no dia seguinte. Ele foi encaminhado ao Distrito Policial (2º DP) para os procedimentos, mesma unidade policial que prosseguirá com as investigações.

O homem de 23 anos foi solto em audiência de custódia realizada nessa segunda-feira (5). Conforme a decisão da 17ª Vara Criminal de Audiências de Custódia, a qual o Diário do Nordeste teve acesso, o jovem vai ter de cumprir medidas cautelares durante o andamento do processo. 

Em sua decisão, a juíza Flávia Setúbal citou o fato do acusado ser réu primário e com bons antecedentes, para poder soltá-lo. 

"Além disso, o fato imputado não foi cometido no contexto da criminalidade organizada, sendo o mesmo um ato isolado na vida do conduzido, o qual nunca teve nenhum registro criminal em seus antecedentes", diz a decisão judicial.