Dupla que criou perfil falso de mulher em rede social para matar desafeto em Fortaleza vai a júri

O MPCE afirma que o crime ocorreu devido a uma disputa entre facções criminosas

A Justiça do Ceará decidiu que uma dupla acusada de matar um desafeto, em Fortaleza, deve ir a júri popular. Kaiky Alves Tiodozio e Felipe Heric Lima Alves, conhecido como 'Gago', foram pronunciados e irão sentar no banco dos réus.

Conforme a acusação, os denunciados criaram um perfil feminino falso no Instagram e atraíram Helano da Silva Gonzaga até o local do crime, na Aerolândia, enquanto a vítima acreditava que iria a um encontro romântico. O crime teria sido motivado pela rivalidade entre facções.

O advogado Bruno Dantas, que representa o acusado Felipe Heric, disse em nota que "em relação à recente decisão de pronúncia, a defesa esclarece que irá recorrer, buscando a devida revisão judicial desta decisão".

Considerando as falhas e inconsistências presentes no julgamento, já estamos tomando as medidas cabíveis para interpor o recurso necessário junto ao Tribunal competente, buscando a devida revisão e reforma da decisão. Mais detalhes sobre o caso não serão divulgados no momento, uma vez que se trata de um processo em andamento e qualquer informação adicional poderá comprometer o devido processo legal.
Advogado Bruno Dantas

Já nos memoriais finais, a defesa dos réus alegou que as testemunhas ouvidas ao longo da investigação não apontaram com consistência quem seriam os autores dos disparos e alegou que a dupla é inocente, pedindo a absolvição sumária dos denunciados: "é evidente a fragilidade das alegações da acusação, não havendo que se falar em indícios suficientes de autoria", dizem os advogados.

Nos autos, os investigadores alegaram que "o medo de represálias por parte das facções criminosas locais impediu que as pessoas colaborassem com as investigações"

DETALHES DO CASO

O Ministério Público do Ceará (MPCE) afirma que "o crime decorreu da disputa entre as organizações criminosas rivais, Massa Carcerária – da qual fazia parte a vítima Helano v. "TIZIL" –, e Guardiões do Estado - GDE – a qual os acusados guardavam relação".

A acusação é de homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, consistente na rivalidade de facções; emprego de meio cruel, em razão da multiplicidade das lesões causando maior sofrimento à vítima; e mediante recurso que impossibilitou a defesa da vítima, "pois foi atraída até o local do crime por meio de perfil feminino falso no Instagram, acreditando se tratar de um encontro romântico".

Kaiky é quem teria criado o perfil falso nas redes sociais. Ele fingiu ser uma menina para atrair a vítima até o entorno de uma mansão, no Bairro Cajazeiras, "quando a vítima chegou ao local foi surpreendido pela rápida aproximação de um veículo de cor branca de onde desembarcaram os dois acusados munidos de armas de fogo. Logo em seguida, os réus Kaiky e Felipe, v. "Gago", efetuaram disparos de arma de fogo".

Helano foi atingido com 23 disparos de arma de fogo no dia 30 de maio de 2023, "o que indica a crueldade consistente na deliberada vontade de aumentar o sofrimento da vítima"

"A testemunha Y, ouvida sob proteção, afirmou que seu perfil do instagram foi utilizado com o propósito de atrair a vítima ao local do crime. Afirmaram que os indícios apontam para Kaiky e Felipe como os principais suspeitos", segundo a acusação.

Ainda de acordo com a 'testemunha Y' "durante as conversas telefônicas, Kaiky convidava Helano para 'cheiro do queijo', expressão que sugere uma emboscada, com conotação de risco. Afirmou ainda que acessou sua conta no Instagram através do celular de Kaiky e não realizou logout deste dispositivo, mas não costuma deixar seu Instagram aberto em dispositivos eletrônicos alheios, mantendo-o apenas em seu tablet".

EPISÓDIOS ANTERIORES

A vítima chegou a ser investigada anteriormente, sob suspeita de participar de um duplo homicídio que vitimou o tio de Felipe Eric, "crime este motivado pela rivalidade entre facções".

Também consta nos autos que Felipe, "disse em Juízo, em síntese, que conhecia Kaiky e Helano, e que este último fazia parte da facção "massa carcerária". Afirmou ter sido alvejado na perna por Helano durante uma tentativa de chacina, mas posteriormente se desculpou, informando que não possuía motivos para vingar-se da vítima".