Condenados por Chacina do Benfica ainda não foram julgados por outro homicídio, ocorrido há 5 anos

Matança de sete pessoas aconteceu dois meses depois do assassinato de um jovem, no mesmo bairro. Três homens foram acusados pelos dois casos

Dois meses antes de sete pessoas serem assassinadas no episódio que ficou conhecido como Chacina do Benfica, em 2018, um homem foi perseguido e morto a tiros, no mesmo bairro, em Fortaleza. Os acusados, pelos dois casos, são os mesmos. Pela chacina, dois réus foram condenados e um absolvido. Mas pelo homicídio individual, os três acusados seguem sem julgamento.

O Ministério Público do Ceará (MPCE) pediu a condenação de Douglas Matias da Silva, Francisco Elisson Chaves de Souza e Stefferson Mateus Rodrigues Fernandes pelo homicídio qualificado (por motivo torpe e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima) de Davi Cavalcante de Sousa e ainda pelos crimes de organização criminosa e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido, em Memoriais Finais emitidos à Justiça Estadual, em março de 2020.

Quase três anos depois da manifestação do MPCE, a 1ª Vara do Júri de Fortaleza ainda não proferiu a sentença de pronúncia (ou seja, ainda não decidiu se irá levar os réus a julgamento). Questionado sobre a demora, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) afirma que o processo "está em andamento e com constantes movimentações na 1ª Vara do Júri de Fortaleza".

"Durante a tramitação, além de diversos procedimentos da fase de instrução (como citações, apresentação de defesa prévia, audiências de oitiva de testemunhas e acusados, houve ainda o oferecimento de aditamento à denúncia por parte do Ministério Público estadual para incluir no polo passivo o réu Stefferson Mateus Rodrigues Fernandes, após investigações apontarem a participação dele no crime. Com isso, teve-se início os procedimentos instrutórios em relação a este réu. Quando finalizados, o processo ficará concluso para decisão"
TJCE

Conforme a acusação, Douglas Matias, Francisco Elisson e Stefferson Mateus estavam em um veículo que perseguiu Davi Cavalcante de Sousa, que trafegava em uma bicicleta, na Rua Marechal Deodoro, na noite de 2 de janeiro de 2018. Em determinado ponto, os acusados saíram do veículo e começaram a atirar. Davi se escondeu dentro de um estabelecimento comercial, mas foi localizado e executado com pelo menos seis disparos.

O motivo do crime, segundo a investigação, foi a disputa pelo tráfico de drogas entre facções criminosas na região. Os réus são apontados como integrantes de uma facção cearense. Familiares da vítima afirmaram à Polícia que ele usava e vendia drogas e que, pouco tempo antes do assassinato, ouviram falar que ele teria trocado a clientela.

Na Defesa Prévia, no processo, a Defensoria Pública Geral do Ceará, responsável pela defesa de Stefferson Mateus Rodrigues Fernandes, afirmou que, ao examinar a investigação policial sobre o homicídio, "não foi possível se dizer que estamos no calor de uma contenda pela disputa de áreas para o comércio de substâncias entorpecentes, tudo não saindo da esfera do ouvir dizer, sem rastreio numa prova segura que possa definir os tipos penais".

Já as defesas de Douglas Matias da Silva e Francisco Elisson Chaves de Souza afirmaram, na Defesa Prévia, que "os fatos não ocorreram exatamente como estão narrados na exordial acusatória, o que se provará no decorrer da instrução processual".

Dois acusados foram condenados por Chacina

Dois meses após o assassinato de Davi Cavalcante de Sousa, sete pessoas foram mortas a tiros, em pontos próximos do bairro Benfica, na noite de 9 de março de 2018. Para a investigação policial, Douglas Matias, Francisco Elisson e Stefferson Mateus estavam novamente na cena do crime, como autores das mortes.

Entretanto, para o júri popular e para o próprio Ministério Público (que mudou de opinião sobre Elisson no julgamento), apenas Douglas e Stefferson participaram da Chacina do Benfica. O primeiro negou a autoria dos crimes, mas foi condenado a 189 anos de prisão; e o segundo assumiu os assassinatos, pediu desculpas e foi sentenciado a 170 anos de reclusão. O julgamento ocorreu no dia 6 de novembro do ano passado.

Já Elisson foi inocentado pelos homicídios e condenado a 4 anos de prisão, por integrar a organização criminosa. Ele provou para os jurados, com ajuda de testemunhas, que estava em Paracuru, na noite da matança.

Conforme as investigações policiais, a matança foi motivada pela guerra entre facções para o tráfico de drogas, na região do Benfica e bairros próximos.