Embarcações estrangeiras e nacionais, que atracam no litoral de Fortaleza, são alvos de "piratas" (assaltantes do mar), interessados em roubar materiais do barco e nos pertences dos tripulantes. O assalto mais recente aconteceu em uma embarcação do Panamá, no último sábado (4). Um suspeito já foi preso e os objetos roubados foram recuperados pela Polícia.
Uma velejadora de Fortaleza, que pediu para não ser identificada, afirma que velejadores e tripulantes estão temerosos de parar em Fortaleza, em razão da repercussão dos roubos: "Essa embarcação do Panamá não é a primeira. Fortaleza é ponto de passagem de pessoas de qualquer lugar do Brasil e do mundo. Mas os barcos estão deixando de atracar aqui, por medo".
Os roubos são cometidos por quadrilhas formadas por 3 a 5 pessoas, residentes em áreas próximas à orla, segundo testemunhas. Os grupos criminosos atuam como "piratas", que se aproveitam de informações privilegiadas e conhecimento da costa marítima cearense para entrar nas embarcações, roubar itens do barco e objetos pessoais dos tripulantes e fugir rápido, antes da atuação policial.
De acordo com a velejadora ouvida pela reportagem, os crimes têm aumentado, do ano passado para cá. Em 2022, pelo menos dois veleiros - ambos de origem francesa - foram alvos de assaltos. Os roubos às embarcações estrangeiras, na orla de Fortaleza, acontecem há pelo menos cinco anos, como mostrou uma reportagem do Diário do Nordeste publicada em 2018.
O velejador Leonardo Pereira foi roubado após sair do Caribe e atracar o seu barco em Fortaleza, junto da namorada, em maio de 2020. Cinco criminosos entraram na embarcação, com facas e máscaras, amarraram o casal e roubaram o que podiam: equipamentos náuticos, rádios, telefones, drone, notebook e até roupas e comidas. "Foi uma 'limpa', em média de 20 minutos de assalto. Eles atracaram a jangada ao lado e ficou outra pessoa recebendo os pertences. Somente de equipamento, na época, foi 55 mil reais de prejuízo", descreveu.
Fomos ameaçados a ser espancados o tempo todo, para falarmos onde estavam as coisas no barco. Passamos à noite em claro, até o próximo dia, e fomos para o hotel onde tem o píer, para comprar mantimentos para seguir viagem e fugir de Fortaleza. Fortaleza nunca mais. Nem de barco nem de avião. Pois a quadrilha assalta os navegadores há muitos anos, e não acontece nada com eles."
O Capitão dos Portos do Ceará, Anderson Valença, da Marinha do Brasil, afirmou, durante o evento I Encontro Ceará Humanáutico, na Assembleia Legislativa do Ceará, na última quarta-feira (8), que "infelizmente, essa é uma situação rotineira aqui em Fortaleza".
"Embora não seja atribuição da Marinha, porque é uma questão de Segurança Pública, no mesmo dia falei com o secretário de Segurança (do Ceará) e com a Polícia Federal e estamos buscando coordenar uma reunião na semana que vem, para a gente traçar estratégias, para que isso não volte a ocorrer mais", revelou o Capitão dos Portos.
O Ceará tem uma posição estratégica, geográfica. É um lugar privilegiado para quem vai para a Europa, Estados Unidos, Caribe, fazer uma parada aqui. Infelizmente, os velejadores estão deixando de parar por aqui, com receio de serem assaltados. A gente tem que acabar com isso e tentar promover o nosso Ceará."
A Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) e a Polícia Federal (PF) foram demandadas sobre dados de roubos a embarcações em Fortaleza, nos últimos anos, mas os números não foram repassados.
Em nota, a SSPDS afirmou que "equipes da Polícia Militar do Ceará (PMCE) realizam o policiamento da região das vias da faixa litorânea da Capital por meio de equipes do Policiamento Ostensivo Geral (POG) do 8º Batalhão de Polícia Militar (8º BPM) e do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur), que se distribuem em ciclopatrulhamento, motopatrulhamento, policiamento a pé e em viaturas, além de bases fixas".
A Pasta informa ainda que as ocorrências na região são investigadas pelas delegacias distritais da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), além da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur) e outras unidades especializadas, que acompanham os casos de acordo com suas respectivas competências e circunscrições. As ocorrências podem ainda ser registradas por meio da Delegacia Eletrônica (Deletron), no site www.delegaciaeletronica.ce.gov.br, em qualquer horário do dia ou da noite."
Embarcação do Panamá é alvo de roubo
Segundo informações da SSPDS, equipes da Delegacia de Proteção ao Turista (Deprotur), da Polícia Civil do Ceará (PC-CE), e do Batalhão de Policiamento Turístico (BPTur), da Polícia Militar do Ceará, realizaram diligências desde o último sábado (4), quando receberam informações sobre o roubo à embarcação do Panamá - que estava ancorada no Cais do Porto, na capital cearense, e que tinha como destino o Estado de São Paulo.
Na última segunda-feira (6), os policiais recuperaram quatro aparelhos celulares, dois tablets, duas pistolas de sinalização e dois sinalizadores, que haviam sido roubados. Na continuação do trabalho policial, um suspeito, identificado como Francisco Luciano Sales da Penha, de 24 anos, foi preso por participação no roubo.
O suspeito, que já tinha passagens pela Polícia por porte ilegal de arma de fogo e tráfico de drogas, foi autuado em flagrante por roubo qualificado. "A Deprotur segue investigando o caso com o objetivo de elucidar as circunstâncias do roubo, assim como identificar e capturar outros partícipes", informa a SSPDS.
A Secretaria destaca que a população pode contribuir com as investigações, com informações que auxiliem os trabalhos policiais. As denúncias podem ser feitas para o número 181, o Disque-Denúncia da Pasta, ou para o (85) 3101-0181, que é o número de WhatsApp. As denúncias podem ser encaminhadas ainda para o telefone (85) 3101-4912, da Deprotur. O sigilo e o anonimato são garantidos pela SSPDS.