Piscicultores que atuam no açude Castanhão apontam a impossibilidade da retomada da produção de tilápia em cativeiro na bacia do maior reservatório do Ceará. Segundo os produtores, o baixo volume do reservatório, a suspensão da transposição das águas do rio São Francisco, chuvas reduzidas e liberação do recurso hídrico para o Eixão das Águas impediram o desenvolvimento do trabalho deles.
“A nossa esperança já se acabou, foi curta, não durou nem um mês para a ampliação das gaiolas com tilápia no Castanhão. E só podemos esperar por Deus e aguardar o ano que vem”. A frase em tom de lamento é do piscicultor Laudo Clementino, que ainda resiste e mantém um pequeno criatório em tanques-rede no local.
O desânimo não é só dele. “Todos nós [trabalhadores e produtores] estávamos muito animados, achando que iria dar certo neste ano e voltar a criar mais peixe, mas agora veio, como se diz, um banho de água fria e acabou com a nossa esperança”, disse Carlos Antônio Silva.
Em parceria com Laudo Clementino, Carlos Silva já chegou a ter 25 gaiolas, mas agora a dupla só mantém 15. A produção que era de três mil quilos por mês de pescado, caiu para 800 kg.
"É arriscado continuar"
Draulino Evangelista desde 2005 começou a criar tilápia em cativeiro na localidade de Jaburu, no Castanhão. Em 33 gaiolas, chegou a produzir oito mil quilos em média, mensalmente. “Para a Semana Santa passada produzi três mil quilos, mas parei porque é arriscado continuar com o Castanhão continuando com pouca água”, contou. “Cheguei a ter três trabalhadores, mas todos foram dispensados”.
Sentimentos de tristeza e de incertezas marcam os piscicultores e trabalhadores.
No começo de março deste ano a perspectiva de todos era excelente com a vinda da água do São Francisco, com as chuvas que estavam boas e havia aquela animação para voltar a produzir. Agora não temos mais chuva, estão soltando água para a região de Fortaleza e até a transposição vai paralisar”
O gerente de piscicultura Francisco Rodrigues lembra, com a voz embargada e os olhos marejados, que a unidade que administra chegou a produzir 150 toneladas de tilápia por mês, mas hoje caiu para 40t. “A gente chegou a ter 20 funcionários e agora só temos quatro”, comparou. “As coisas estão ruins, a situação é complicada e manter a produção é um risco com pouca água no açude”.
Volume do Castanhão segue baixo
O açude Castanhão acumula apenas 12% de sua capacidade. No início da atual quadra chuvosa (1º de fevereiro), o Castanhão acumulava 10,5% de sua capacidade. Em 10 de março passado, quando a água da transposição começou a chegar ao reservatório, o volume havia caído um pouco para 10,3%.
No dia 31 de março passado começou a operação de transferência de água do Castanhão para o sistema de açudes da Região Metropolitana de Fortaleza. Naquela data, o reservatório acumulava 11,5%.
Os dados mostram que o aporte foi muito reduzido e, com a escassez de chuva neste mês nas cabeceiras do rio Salgado, na região do Cariri, a tendência é de que o Castanhão permaneça com volume reduzido, impedindo a ampliação da quantidade de peixes atualmente nas gaiolas e a recolocação de novos tanques-redes.
Para complicar ainda mais o cenário de reduzida reserva hídrica, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) confirmou que a partir do próximo dia 10 de maio, haverá suspensão da transposição das águas do São Francisco para o Ceará, por 45 dias, para realização de serviços e obras de manutenção e conserto em canais e sistemas de bombeamento.
Impossibilidade de retomar a produção de tilápia
A secretaria de Desenvolvimento Econômico e Aquicultura de Jaguaribara apontou que, neste ano, com o cenário atual não há mais como retomar e ampliar a produção de tilápia no gigante Castanhão porque o volume permanece reduzido.
Para a titular da pasta municipal, Lívia Barreto, a suspensão da transposição do rio São Francisco para o Ceará por 45 dias piorou ainda mais o cenário.
A secretária mostra preocupação com o quadro atual. “Havia sim uma expectativa de que neste ano a produção seria retomada com a chegada das águas do São Francisco”, disse.
Os piscicultores tinham esperança com a transposição, mas a liberação de água para Fortaleza com vazão elevada impede a retomada de volume no açude”
Lívia Barreto frisou que centenas de produtores estão com dívidas rurais nos bancos oficiais devido às perdas com os eventos de mortandade e a impossibilidade de pagar os financiamentos contratados. “Os piscicultores estão sem crédito porque permanecem devedores e também não há licença ambiental para a retomada dos criatórios com o volume atual”.
A autorização para a instalação de gaiolas só é concedida quando o reservatório atinge pelo menos, 20%. A economia local sofre o impacto da crise no setor de piscicultura: queda de receita em torno de 70%, segundo a prefeitura, e centenas de desemprego.
Déficit produtivo
Em 2012, o Castanhão já estava entre os maiores produtores do País, assumindo o ranking em 2013 com um pouco mais de 22 mil toneladas naquele ano, beneficiando em torno de duas mil famílias com empregos diretos e indiretos.
Atualmente, o Castanhão produz apenas 300 toneladas/mês, com apenas 40 piscicultores que se mantêm na atividade.
Após três grandes perdas – eventos de mortandade em 2015, 2016 e 2019, “a produção foi praticamente dizimada, ficando os produtores sem renda e com dívidas, até hoje, e essa crise afeta a economia do município”, reafirmou o prefeito de Jaguaribara, Joacy Alves Júnior.