Oferecer ao mercado odontológico um curativo biodegradável e que estimula o crescimento ósseo. Esse é o objetivo de uma pesquisa em andamento na Universidade Federal do Ceará (UFC). Embora em fase pré-clínica (realizada em animais), os resultados são animadores.
O novo produto apresenta duas vantagens em relação aos métodos atuais utilizados para se obter crescimento da massa óssea em pacientes que a perderam por doença ou por extração dentária há muito tempo.
É bioativo - capaz de estimular o crescimento ósseo - e biodegradável - absorvido pelo próprio organismo.
Os produtos tradicionais usados atualmente funcionam como barreira física e exigem enxerto e aplicação de um curativo que tem o objetivo de impedir que o tecido da gengiva ocupe o espaço do enxerto.
Depois de um certo período, se a cirurgia apresentar resultado satisfatório, é feito um segundo procedimento para retirada do curativo tradicional.
O estudo em andamento por um grupo de pesquisadores da UFC aponta um método simplificado.
“O novo método que estamos pesquisando dispensa a utilização do osso biocompatível e por ser biodegradável é absorvido pelo organismo, evitando um segundo procedimento e diminuindo o risco de infecção”
A pesquisa começou quando Erika Luz fez estudos de mestrado e agora se aprofunda no doutorado, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da UFC.
Os testes pré-clínicos recebem o apoio do professor Igor Castro, do Curso de Odontologia do Campus de Sobral, e da professora Vilma de Lima, da Pós-Graduação em Farmacologia e Odontologia do Campus da UFC, em Fortaleza.
O odontólogo João Eudes Pinho, especialista em implante dentário, ressaltou os resultados iniciais da pesquisa.
“Indicam vantagens importantes, modernização e facilidade para os profissionais que trabalham com enxerto para recuperação da massa óssea e futura possibilidade de implantes”, frisou. “Vamos aguardar a nova etapa da pesquisa e torcemos para que avence com bons resultados”.
Pesquisa
Em sua composição, o osso passa por uma fase orgânica (colágeno) e uma etapa inorgânica (hidroxiapatita, cujo principal elemento é o carbonato de cálcio). No estudo em andamento, o osso foi adaptado.
Durante a fase orgânica, o curativo foi obtido a partir de celulose bacteriana, que poderia se tornar biodegradável; enquanto na etapa inorgânica, o cálcio foi substituído por estrôncio, um mineral que estimula a formação óssea e evita a reabsorção do tecido ósseo mais antigo pelo organismo.
Testes foram realizados para controle da degradação da celulose e da liberação do estrôncio no corpo humano, visando uma liberação em maior quantidade, quando necessário, e controle para evitar toxidade para o paciente.
No caso de regeneração óssea, a pesquisa aponta a liberação prolongada e controlada em pequenas quantidades do mineral ao longo de semanas.
Erika Luz pontuou que a pesquisa resultou em dois sistemas diferenciados de liberação de estrôncio e exemplificou: “É como se fossem duas camadas, duas doses”.
O professor Rodrigo Vieira, orientador da pesquisa, reforçou que os testes para esse sistema foram feitos em laboratório. O docente ressaltou que o curativo em estudo “pode ser aplicado para que haja maior liberação de estrôncio em três dias, suficiente para aliviar o trauma, e depois em um gradiente muito menor por até seis meses”.
Erika Luz no doutorado apresentou que os pesquisadores conseguiram modificar quimicamente a matriz da celulose para que o produto se tornasse biodegradável, com realização de testes de biocompatibilidade (para ver se o produto não é tóxico e como se comporta sua degradação) e depois utilização em animais para confirmar que o curativo propicia o crescimento ósseo.
Divulgação
Em breve, deve ser divulgado o resultado da pesquisa feita na parte superior do crânio de rato, que não apresenta regeneração óssea natural. A pesquisa segue com uma nova etapa: avaliar a capacidade de indução em um modelo de periodontia, com dentes de animais.
Se os estudos e testes continuarem satisfatórios, a pesquisa avança para a fase clínica, com humanos. Os cientistas da UFC estão atrás de financiamento para essa nova etapa dos trabalhos clínicos.
Já foi firmada parceria com uma start-up para licenciamento de tecnologias e, ao mesmo tempo, há sondagem para apresentação de um futuro pedido de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi) e registro do produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).