Moradores de Sobral sofrem com inundações

Choveu 18,7% acima da média no Ceará, em fevereiro. Em alguns Municípios, a população contabiliza os prejuízos

Sobral. Ontem foi dia de limpeza e de contabilizar prejuízos para dezenas de moradores do Distrito de Taperuaba, mais precisamente do Bairro Vassouras, que foram surpreendidos por uma enchente, resultado de uma forte chuva que banhou a localidade no fim da tarde de segunda-feira. As famílias afetadas moram à margem do Riacho dos Vianas, que não suportou o volume das águas que desceram das encostas da Serra Verde em direção ao córrego.

Pelo menos três pequenas fábricas de confecções de recém-nascidos e peças íntimas foram atingidas. "Não houve tempo de salvar muita coisa. Estava sozinha e para evitar o pior tive que abrir um buraco na parede para que a água escoasse", disse a dona da fábrica, Suliana Mendes Fidelix, uma das 20 famílias afetadas.

Ela, juntamente com funcionários e familiares, tentava retirar do meio da lama peças de tecidos e de aviamentos, que não foram levadas pela água. "Está tudo perdido. Não serve nem para pano de chão", acrescentou Suliana Fidelix, que não soube informar quanto seria o prejuízo.

A chuva durou cerca de 40 minutos, o suficiente para causar os estragos, que além de inundar as casas, invadiu propriedades, levando animais, como porcos, galinhas e patos. Estudantes que seguiam de ônibus para a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) tiveram que voltar temendo serem arrastados pelas águas que cobriam a rodovia que dá acesso à cidade de Sobral.

Uma das mais antigas moradoras da localidade, a aposentada Eunice Mendes Fidelix, disse que durante seus 66 anos de vida nunca viu uma situação dessa. "O rio já chegou a encher, em 1986, mas não trouxe prejuízo para nós, moradores", disse a aposentada, mãe de três filhas, donas das fábricas de confecções atingidas.

O prejuízo maior foi para Suelen Mendes, que acredita que algumas máquinas de costura foram danificadas. "A sala onde fica o setor de costura foi tomado pelas águas, não houve como retirar todas de uma só vez", disse Suelen Mendes.

A situação mais desesperadora foi vivida pela dona de casa Maria Salete Rodrigues, uma das primeiras a ser atingida. Ela conta que não houve tempo de salvar nada. Até os vizinhos tentaram ajudar. Mas na agonia de remover o guarda-roupa, bastante encharcado, acabou se desmoronando e toda roupa desceu na enxurrada. "Estava sozinha com minha duas filhas menores. Não tive como retirar nada", disse Maria Salete, que está alojada na casa da irmã, Ana Célia.

Se o clima aparentemente era de tranquilidade, os moradores reclamavam da ausência da Defesa Civil, que esteve na localidade na mesma noite do desastre, mas que, no dia seguinte, não retornou para rever a situação.

"Nós mesmos é que estamos desobstruindo as bocas de lobos, e reconstruindo o que a chuva destruiu", disse Raimundo Nonato. Em outro ponto do bairro, uma equipe de moradores tentava limpar um trecho da Rua Antônio Nel, atingida pela enchente. No trecho danificado boa parte da rua cedeu e o asfalto está comprometido.

A Defesa Civil do Município ainda não se manifestou sobre o que teria ocasionado a inundação. De acordo com o s moradores afetados, a construção de uma pocilga por um dos moradores à margem do riacho pode ter provocado a enchente. Na Serra Verde, também há sinal de que aconteceram deslizamentos de encosta.

A Secretaria de Agricultura do Município, que acompanha as ocorrências provocadas pelas chuvas, informou que o rompimento de uma barragem de pequeno porte na localidade de Macapá fez com que o nível do Riacho dos Vianas aumentasse consideravelmente. O reservatório pertencia à Fazenda João Linhares.

Até o fechamento ainda não havia sido contabilizado o volume da chuva que caiu sobre o Bairro Vassouras, mas o índice pode chegar a 200mm. Na sede de Taperuaba, a chuva foi de 45mm. No Distrito de Patos, que fica na mesma região, a chuva foi de 85mm e na cidade de Forquilha, situada também nesta região a chuva foi de 102mm.

Balanço

No primeiro mês da quadra chuvosa de 2011, a Funceme registrou 180,7mm de chuva em todo o Estado. A média histórica de fevereiro é de 152,2mm, ou seja, choveu 18,7% acima da média no Ceará. O Cariri teve, proporcionalmente, maiores índices pluviométricos, com 272,8mm, 49% acima da média regional. Só nas regiões da Ibiapaba e Jaguaribana choveu abaixo da média histórica.

O prognóstico atualizado da Funceme de fevereiro à maio aponta 45% de probabilidade de chuvas em torno da média, 40% de chances de chuva acima da média.

No primeiro dia de março, choveu em 102 Municípios cearenses. A maior chuva registrada hoje foi na cidade de São Benedito, 105mm.

Fique por dentro
Prejuízos

"Ainda não foi possível calcular o prejuízo. Estamos vendo o que sobrou de tecidos que seriam utilizados na confecção"

Suliana Mendes Fidelix
Confeccionista

"Perdi uma geladeira e televisor. Os prejuízos não foram maiores porque consegui trepar móveis e fogão"

Raimundo Nonato Magalhães
Agricultor

MAIS INFORMAÇÕES

Secretaria de Agricultura e Pecuária. Rua Viriato de Medeiros, 1205, Centro. Telefone: (88) 3611.5835
E-mail: agricultura@sobral.com.br

WILSON GOMES
COLABORADOR