Em crescente interiorização, a produção de camarão tem se tornado cada vez mais atrativa na região Centro-Sul e no Vale do Jaguaribe. Em Iguatu, há dois anos, havia apenas um produtor. Hoje, já são 17, cuja estimativa de produção mensal, já para 2021, é de 45 toneladas do crustáceo, com faturamento previsto ao fim do ano de R$ 10 milhões, segundo a Secretaria de Agricultura do Município.
A cultura, no Sertão, começou após uma doença viral, a 'mancha branca', causar mortalidade superior a 60% para as antigas fazendas de camarão no litoral cearense. Com a doença, a produção cearense que antes era 35 mil toneladas/ano, até 2017, caiu para 13 mil.
A curva em baixa seguiu "até que se descobriu que era viável produzir camarão no sertão", conforme observa um dos criadores de Iguatu, Murilo Barroso. No interior, a produção foi adaptada aos tanques escavados na terra. Além de Iguatu, a expansão também chegou a cidades como Jaguaribe, Jaguaruana, Itaiçaba, Quixelô, Orós e Icó.
Com a constatação de que seria viável - e bastante lucrativo -, criadores foram incentivados a expandir o número de tanques e, através de acompanhamento fornecido pelo programa Camarão de Iguatu, implantado no ano passado pela Secretaria de Agricultura do Município, a carcinicultura rapidamente avançou.
O programa oferece assistência técnica, análise de solo e de água, projeto topográfico, ambiental e de outorga, além de fornecer logística de comercialização, por meio de engenheiro de pesca, geólogo, topógrafo e biólogo.
Gargalo
A expansão a outros municípios interioranos, no entanto, esbarra em um entrave. A licença para atividade, a partir de 2016, ficou sob responsabilidade da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e, essa mudança, tem causado morosidade na emissão. "As 16 cidades que têm secretarias do meio ambiente estruturadas já solicitaram a mudança (para elas próprias emitirem as licenças), mas ainda não recebemos resposta", disse o assessor técnico ambiental de Iguatu, Marcos Ageu Medeiros.
Sem licenciamento, os criadores não conseguem financiamento. "Muita gente está querendo investir, mas não tem recursos, e os bancos só financiam com a concessão de licença ambiental, que demora, em média, dois anos para ser emitida", conta.
O Sistema Verdes Mares entrou em contato com a Semace, questionando a "demora" na emissão da licença, mas não obteve retorno da Pasta.
Apoio
Regularizados, os produtores podem ter acesso, por exemplo, ao FNE-Aquipesca, do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), administrado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), que ampliou, neste semestre, os recursos disponíveis para as contratações de créditos de financiamento de R$ 18 milhões para R$ 500 milhões.
O dinheiro pode ser usado para financiar a implantação, ampliação, modernização e reforma de empreendimentos de aquicultura e pesca, mediante o financiamento de todos os itens necessários para a viabilização da produção, inclusive insumos, beneficiamento, preparação, comercialização e armazenamento.
A criação de camarão no interior exige investimento em escavação, aquisição de aeradores e outros equipamentos, instalação de energia, de bombeamento da água, ração, mão de obra e medicamentos. Os custos chegam a quase 50% do faturamento. Para instalação de um viveiro de um hectare, por exemplo, o gasto médio inicial é de R$ 50 mil. Por outro lado, estima-se um faturamento por ano de R$ 240 mil, com lucro de R$ 120 mil, contando três safras/ano.
"Com o financiamento, o pequeno produtor que tem terra, mas não tem recurso, vai conseguir investir. Isso pode impulsionar ainda mais e a sermos os maiores do País", acredita Barroso.
Hoje, o Ceará é o segundo maior produtor do Brasil, com 13 mil toneladas de camarão por ano, de acordo com a última pesquisa Produção da Pecuária Municipal (PPM), divulgada em setembro de 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).