No intervalo de 24 horas, o Ceará registrou duas mortes ocasionadas por choque elétrico. O número representa 5,4% do total de mortes em todo o ano de 2018. No domingo (13), a recepcionista Fabiana Lucas não resistiu a uma descarga elétrica ao tentar ligar uma máquina de lavar, em Sobral. No dia seguinte, o corpo do agricultor Francisco das Chagas, que fazia reparos na rede elétrica de um sítio, foi encontrado sem vida. O Núcleo de Perícia Forense, Plácido Sobreira Silva, confirmou a causa da morte na quinta-feira (17).
Segundo a Associação Brasileira de Conscientização dos Perigos de Eletricidade (Abracopel), o Ceará registrou 38 mortes por choque elétrico em 2018, sendo a maioria em áreas residenciais e distantes da Capital. Das 59 ocorrências por causas de origem elétrica, 44 tiveram vítimas, sendo 38 por choque elétrico, quatro por incêndios originados em sobrecarga e duas por descargas atmosféricas - as duas em Fortaleza. Além disso, a capital cearense registrou 14 ocorrências - cinco por choque (com uma morte) e sete por incêndios (com quatro mortes).
Interior do Estado
No domingo, 13, Fabiana Lucas, de 34 anos, foi encontrada sem vida na casa dos pais, na zona rural de Sobral. Ela não resistiu após receber uma descarga elétrica ao tentar ligar uma máquina de lavar. Segundo familiares, o acidente aconteceu após Fabiana entrar em contato com uma extensão danificada, que transferiu a descarga elétrica diretamente ao seu corpo.
No dia seguinte, 14, por volta das 20h, o corpo de Francisco das Chagas foi localizado no município de Cariús, Centro-Sul do Estado. Segundo o primo da vítima, Francisco Ronildo, o agricultor estava fazendo o conserto de uma rede elétrica próxima a um poço e sistema de bombeamento de irrigação de sua propriedade, quando recebeu a descarga.
A gente não viu como aconteceu, quando percebemos ele estava caído. Desde o início a gente achava que ele sofreu um choque, já que ele estava mexendo com energia elétrica, conta.
Residências
O Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica, divulgado este ano, aponta que a maioria dos incidentes ocorrem em residências (casas, apartamentos, sítios, fazendas, etc) - foram 24 ocorrências que vitimaram 18 pessoas. Segundo o engenheiro da área de eficiência energética da Enel Ceará, Marcony Melo, o fato de não haver uma legislação para a fiscalização das residências é o principal problema.
Para as chamadas instalações prediais, as exigências estão direcionadas na Norma Brasileira de Instalações Elétricas, porém, para as instalações feitas em residências, os proprietários do imóvel ficam responsáveis por atender às normas. “As residências, em si, não têm lei específica para a fiscalização. Os próprios donos têm que fazer isso e o Estado não tem esse poder, como acontece com a fiscalização dos prédios”, explica.
Instalações
O especialista da Enel aponta que a maior parte dos acidentes ocorre em decorrência de instalações mal feitas. “Os moradores vão ampliando as casas sem o devido estudo na questão das instalações. A maioria desses choques são causados por isso”, relata. A visão é reiterada pelo engenheiro e diretor da Abracopel, Edson Martinho. Segundo ele, com o crescimento urbano desenfreado, as instalações acabam não atendendo às determinações.
“As instalações têm normas técnicas que precisam ser seguidas. É preciso haver profissionais que façam projetos elétricos de acordo com estas normas”, explica. Para ele, as mortes podem ser evitadas se tomadas as precauções necessárias. “A cada cinco anos é preciso que se faça a revisão por um profissional qualificado”, pontua.
Brasil
O Ceará segue uma tendência nacional. Em 2018, os choques foram responsáveis por 622 mortes no Brasil. Neste cenário, a região Nordeste é a primeira em ocorrências, com 258 mortes. Segundo a Abracopel, isso sinaliza uma tendência de estabilização, já que nos últimos anos o número tem se mantido na média de 600 mortes (são quase duas mortes por dia ocasionadas por choque elétrico).