Com a desaceleração de diagnósticos positivos e mortes por Covid-19 no Ceará, os indicadores que aferem a intensidade da pandemia também estão recuando. Atualmente, segundo estudo publicado pelo Comitê Científico do Nordeste ontem (18), o número de reprodução (RT) do novo coronavírus SARS-CoV-2 no Estado marca 0,13, o menor índice do Nordeste. Na prática, o dado revela que cada infectado passa a doença para menos de uma pessoa e “indica decrescimento de casos ativos”.
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Em situação similar a do Ceará estão Maranhão (0,63); Paraíba (entre 0,65 e 0,90); Pernambuco (0,70); Alagoas (entre 0,70 e 0,90); Sergipe (entre 0,70 e 1,00); Piauí (entre 0,75 e 0,875) e Bahia (entre 0,79 e 0,97). Apenas o Rio Grande Norte possui RT igual a 1,0, segundo o levantamento.
Até o dia 12 setembro, quando os dados analisados foram tabulados, o Ceará apresentou “baixo isolamento social”, uma vez que o Plano de Retomada das Atividades Econômicas locais está na 4ª fase em todos os 184 municípios. Ainda assim, o estudo revela que a situação epidemiológica é de baixo número de óbitos. “Observou-se que a abertura foi gradual e controlada, e que existe um baixo risco na evolução da epidemia nas próximas semanas”, projeta o Comitê.
Pico
Durante o mês de maio, quando ocorreu o pico da pandemia no Ceará, a taxa de transmissão da Covid-19 chegou a 2,0 no Estado e 2,02 em Fortaleza, de acordo com a plataforma IntegraSUS da Secretaria da Saúde (Sesa). O RT atual também é inferior ao registrado após a confirmação dos primeiros casos, em março. Naquele mês, início da reclusão domiciliar determinada por decreto, o índice era de 1,78.
A reportagem do Diário do Nordeste procurou o Comitê Científico do Nordeste e a Sesa para repercutir o panorama da Covid-19 descrito no estudo, mas não teve retorno. Já a infectologista do Hospital São José, Melissa Medeiros, explica que a queda no índice de reprodução da doença tem a ver com o cumprimento do protocolo de segurança individual, como o uso de máscara e a higienização das mãos, que viraram rotina. Porém, o distanciamento social, a médica avalia, que não está sendo obedecido.
Ao mesmo tempo, ela acredita que “boa parte da população” já teve a Covid-19, o que pode ter contribuído para o decréscimo. “No auge da pandemia, a gente tinha uma grande transmissão porque havia poucas pessoas doentes que foram transmitindo para a maioria das pessoas suscetíveis. A taxa de transmissão baixa mostra justamente que talvez a gente esteja esgotando a nossa população suscetível mais exposta”, pondera.
À medida em que o indicador diminui, as unidades hospitalares passam a acolher ambulatorialmente menos pacientes, afirma a infectologista. “Nas últimas semanas, os pacientes que temos recebido tanto no (setor) público quanto no privado são oriundos do interior. Então, a gente já não vê mais um número de atendimentos como nos meses anteriores na rede de Fortaleza, tanto que o (Hospital) Leonardo da Vinci já está em processo de esvaziamento”, ressalta.
Internações
Os dados do IntegraSUS ilustram a afirmação da médica. De acordo com o boletim, a taxa de ocupação nas enfermarias dos hospitais cearenses é de 32,22%, enquanto no pico da doença, a média de internações era de 73,47%. Este cenário se repete nos leitos das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Se, agora, 54,2% das acomodações estão com pacientes, há quatro meses o número alcançava 85,75%.
Até o momento, 232.950 cearenses já foram diagnosticados com o SARS-CoV-2. Deste número, 206.192 estão recuperados e outros 8.795 não resistiram às complicações da doença. Nas últimas 24 horas, três óbitos foram confirmados. A taxa de letalidade anota 3,8. Do início da pandemia até agora, 715.712 exames laboratoriais foram realizados.
Um total de 88.443 casos ainda estão em investigação pela Sesa. Fortaleza segue sendo a cidade com maior concentração viral no Estado, com 48.329 casos. Juazeiro do Norte (14.888), Sobral (11.561), Maracanaú (6.595) e Crato (6.130) aparecem na sequência.
O estudo do Comitê Científico do Nordeste acrescenta ainda que o número de casos evolui em menor taxa e há uma tendência de decaimento de óbitos diários para as próximas semanas.
“A redução do número de contaminados e, principalmente, de óbitos, provavelmente é consequência do que a classe médica e hospitais aprenderam com o avanço da pandemia em termos de medidas preventivas, tratamentos hospitalares e disponibilidade de leitos em UTIs”, consideram os membros do Comitê.
Ainda segundo o estudo, as autoridades sanitárias devem se manter atentas aos protocolos de reabertura das atividades presenciais, que deve ser “progressiva e escalonada”. Entre as recomendações, estão a capacidade de identificar, isolar e testar (preferencialmente com RT-PCR) qualquer membro da comunidade escolar que apresentar os sintomas da Covid-19, além da verificação da temperatura dos alunos, distanciamento e higiene das mãos.