Câmara Municipal de Independência tem único vereador cigano no Ceará

A presença do representante no parlamento tem garantido, aos poucos, à comunidade cigana o acesso a direitos historicamente negligenciados

Na cidade de Independência, distante 310 quilômetros de Fortaleza, encontra-se o único vereador assumidamente cigano do Estado do Ceará, conforme a Associação de Preservação da Cultura Cigana. Trata-se de Roney Mourão, que conseguiu recentemente aprovar um requerimento na Câmara Municipal instituindo o Dia Municipal do Cigano, que transcorrerá no dia 24 de maio.

"Foi uma vitória importante. Tivemos a unanimidade (11 votos). Ter um representante aqui no parlamento municipal facilita o encaminhamento das nossas reivindicações. Os primeiros ciganos que chegaram aqui em Independência há mais de 50 anos não tiveram a chance de estudar, de ingressar numa universidade. Queremos mudar essa realidade, mostrar às autoridades e aos demais moradores que somos um povo pacato e trabalhador e que queremos apenas ter as mesmas chances", afirma ele.


 

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No município as narrativas reafirmam a necessidade de representação política. Desde 1981, o agricultor Alberto de Melo reside em Independência. Descendente do povo egípcio, Alberto conta que, apesar de alguns avanços, a discriminação ainda impera quando o assunto é o povo cigano.

"Um dia desses, às três horas da manhã, a Polícia bateu na minha porta querendo que eu desse conta de algumas armas que haviam desaparecido da delegacia. Entraram na minha casa à procura do armamento. Agiram com desrespeito, quebraram alguns utensílios. Solicitei o mandado de busca. Eles disseram que não tinham. Depois de alguns minutos e de não encontrarem nada, foram embora. Pensei em levar o caso adiante, de denunciar, mas fui desaconselhado por amigos e familiares", conta. 

Alberto e a família desde que chegaram a Independência cuidam de seu Viana, de 86 anos, que também é da etnia cigana. O ancião se assustou e passou mal durante uma outra batida policial, tendo sido conduzido até o hospital local. A mesma situação se repetiu com um irmão de Alberto. "É sempre a mesma abordagem. Quando não encontram quem prender vêm aqui. Durante toda minha vida, jamais entrei numa delegacia de Polícia. Somos honestos e trabalhamos, mas isso nunca é levado em conta pela Polícia".