Evidências científicas mostram que o lockdown, quando bem aplicado, é eficaz no combate à pandemia do novo coronavírus. Foi apostando na obtenção desses bons resultados que a cidade de Tauá implantou, no começo de março, um isolamento ainda mais restritivo que as medidas determinadas pelo governo do Estado.
No dia 10 de março, todas as atividades presenciais no Município foram paralisadas, incluindo os serviços essenciais. Mercantis, por exemplo, só funcionavam por delivery. A restrição durou dez dias. Após este período os índices de mortes e novos casos começaram a declinar. Atualmente a média móvel está em 6,28, a mais baixa deste ano.
- Tauá tem 5.399 casos confirmados da doença e 95 óbitos
Aumento vertiginoso
O secretário da Saúde do Município, Glayjones Alves Feitosa, explica que a medida rígida foi tomada após uma rápida crescente nos casos. No último dia 31 de janeiro, a média móvel em Tauá era de 14,42. Pouco mais de um mês depois saltou para 24,85, em 9 de março. Os dados são do IntegraSus, da Secretaria da Saúde (Sesa) do Ceará. Um dia após esse pico, a cidade entrou em total lockdown.
“Diante de números tão altos, nosso Comitê identificou que não tinha outra saída senão fechar completamente o comércio. Antes, porém, dialogamos com todos os setores da sociedade e expusemos os números. Houve consenso da gravidade do cenário e o lockdown foi bem recebido pela maioria”, detalha o gestor da saúde.
Em paralelo ao lockdown, o município implantou quatro barreiras sanitárias, que seguem ativas até hoje. Ônibus e vans só podem transportar 50% da capacidade máxima. Ao entrar na cidade, os veículos são inspecionados e os passageiros têm a temperatura medida.
“Se identificarmos qualquer sintoma, aquele paciente é imediatamente levado as unidades de saúde para que seja feito o teste. Dando positivo, os demais passageiros que tiveram contato com eles são orientados a cumprir isolamento social”, explicou o superintendente da Autarquia de Trânsito do Município, Warton Lima.
As barreiras funcionam das 4h30 às 9h e são compostas por agentes de trânsito e guarda municipal. “Não é um horário aleatório. Fizemos estudos e identificamos ser neste intervalo de tempo em que os veículos dos distritos e cidades vizinhas adentram ao nosso Município”, acrescenta Lima.
Um dia após o fim das restrições (21 de março) a média móvel caiu para 15,7. No entanto, na semana seguinte, novo pico, chegando a 30, segunda maior média móvel desde o início da pandemia.
É natural que os resultados concretos surjam após 14 dias e foi isso que observamos. Apesar desse aumento no fim do mês passado, logo em seguida entramos em queda e a tendência permanece.
Do dia 6 de abril em diante, a média móvel acumulou sucessivas quedas, saindo de 30 para 6,28, ainda conforme dados do IntegraSus. A média móvel de mortes saiu de 0,71, em 31 de março para 0, atualmente.
Ações permanentes
Para que os casos não voltem a subir, além da manutenção das barreiras sanitárias, o Município segue com as tendas sanitárias, montadas em frente aos quatro bancos e duas lotéricas ainda no dia 10 de março. Esses espaços contam com totens de álcool em gel, cadeiras – para evitar a formação de fila – medição de temperatura e distribuição de senhas.
“O objetivo é dar suporte aos clientes e evitar aglomeração. As senhas atendem primeiro os idosos e pessoas com comorbidades, depois gestantes e, por fim, o público em geral”, conforme explica Warton.
Ainda segundo o superintendente, bancos e lotéricas eram os pontos de maior aglomeração do centro comercial. “As tendas resolveram esse problema”, garante. Com a retomada das atividades essenciais, como farmácias e mercantis, a fiscalização foi “redobrada”.
Glayjones revela que equipes da Vigilância Sanitária em parceria com outros órgãos atuam para evitar aglomerações e garantir o cumprimento do decreto Estadual vigente no interior até o próximo dia 17.
Alerta
Apesar da significativa redução nos casos e nos óbitos – cuja média móvel atualmente está zerada – o município mantém o “estado de alerta”. Dos 20 leitos de UTIs ofertados em Tauá, todos estão ocupados, segundo números da Secretaria da Saúde Municipal. O gestor, contudo, avalia que esse índice de 100% não representa agravamento dos casos em Tauá.
“Essa ocupação decorre da regulação de leitos. Sempre que há vagas, o Estado envia pacientes de outras cidades. Então, é comum que tenhamos leitos quase que sempre preenchidos em sua totalidade. Hoje, temos 7 pacientes de outras cidades”, detalha.
No entanto, mesmo com essa avaliação, Glayjones revela que as medidas sanitárias serão mantidas. “Não podemos relaxar. Mesmo com a significativa queda nos casos e também na busca por atendimento em nossos postos de saúde, já vimos que o vírus pode ser rapidamente disseminado. Qualquer descuido, voltamos à estaca zero. Portanto, vamos seguir vigilantes, fiscalizando e com todo o cuidado necessário”, finaliza.