Os moradores de Acopiara, na região Centro-Sul, foram surpreendidos nesta terça-feira (13) com a demolição do antigo prédio da estação ferroviária da cidade. A edificação foi inaugurada em 1910 e nos últimos anos estava abandonada, sem telhado e com estruturas danificadas.
O município tinha a cessão do imóvel, que era da antiga Rede Ferroviária Federal e posteriormente passou a guarda do Serviço de Patrimônio da União.
A ideia da Prefeitura de Acopiara é reconstruir um novo imóvel com os traçados e tamanho do original para implantar “um complexo artístico e cultural com anfiteatro e outros espaços”, explicou o secretário de Cultura do município, Dário de Souza.
“A obra é para ser inaugurada por ocasião das festividades do centenário do município que transcorre no fim de setembro”.
Desde 2008 que o imóvel estava abandonado e começou o processo de deterioração. Dário de Souza justificou a demolição do prédio, alegando que “segundo avaliação técnica a estrutura antiga estava muito estragada e não suportava serviços de reforma, por isso foi preferível demolir”.
A decisão da secretaria de Infraestrutura do município causou polêmica na cidade. A arquiteta, Karoliny Gomes, contestou a demolição: “Não dá para acreditar que a Prefeitura fez isso porque revitalizar não é demolir, e fazer um prédio igual ao anterior, é um falso-histórico, é um crime”, afirmou.
“Em 2019, o meu trabalho de término de curso foi sobre a estação ferroviária e propus reforço de pilar, nova estrutura metálica de cobertura porque o telhado antigo havia sido demolido há mais de uma década”, explicou. “Para mim, o que não poderia ter sido feito, era ter sido demolido”.
A arquiteta lembrou que guarda um sentimento com relação à antiga estação ferroviária. “O meu avô paterno era maquinista e tenho boas lembranças do prédio original”.
Após extinção da Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA), imóveis que não haviam sido doados aos municípios ou vendidos a particulares, passaram para a guarda do Serviço de Patrimônio da União e posteriormente para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Os advogados Leandro Florentino e Valdecy Alves também lamentaram a demolição do prédio original, observando que parte da história foi também destruída. “Em 2010, uma obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) já havia sido iniciada para recuperação, mas jamais pensei que seria necessário demolir o prédio”, pontuou Florentino, por meio de redes sociais.
Históricos
No Ceará, 58 estações ferroviárias possuem proteção de bens valorados pelo Iphan. São 32 terminais e 26 anexos que receberam a proteção de bens valorados, por possuírem característica histórica, artística e cultural, mas nenhum foi tombado pelo Instituto do Patrimônio, Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A estação ferroviária de Acopiara integrava essa lista.
Em 1910, o antigo distrito de Lajes, pertencia a Iguatu, e recebeu a ferrovia e a estação de passageiros e de cargas. A localidade se desenvolveu a partir da chegada do trem. Era mais fácil escoar e receber mercadorias e pessoas, interligando a região à capital cearense.
Neste ano, no próximo dia 28 de setembro Acopiara comemora o centenário de emancipação política .
A linha-tronco, ou linha Sul, da Rede de Viação Cearense (RVC) surgiu com a linha da Estrada de Ferro de Baturité, aberta em seu primeiro trecho em 1872 a partir de Fortaleza e prolongada nos anos seguintes.
Em 1915, a RVC passa à administração federal. A linha chega ao seu ponto máximo em 1926, atingindo a cidade do Crato, no sul do Ceará.
Nos anos 1920, o então distrito e a estação passaram a se chamar Afonso Pena e em dezembro de 1943, finalmente a denominar-se Acopiara.