Fortaleza. Com 143 municípios na relação da Operação Carro-Pipa, empreendida pelo Exército Brasileiro, o Ceará tem 77,7% das zonas rurais das cidades com abastecimento hídrico dependendo da chegada desses veículos. Ao todo, 1.665 caminhões são utilizados para distribuir água potável a 970 mil cearenses das áreas afetadas pela seca. A média de investimento mensal é de R$ 21,5 milhões.
>Irregularidade na oferta agrava problemas
A operação é desenvolvida por meio de cooperação técnica e financeira entre dois ministérios: Integração Nacional e Defesa. A execução do programa - incluindo contratação, seleção, fiscalização e pagamento dos pipeiros - é de responsabilidade do Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro (Coter). As áreas urbanas são atendidas pelos carros coordenados pela Defesa Civil Estadual. O carro-pipa do Exército atende municípios grandes, como Crato, Sobral, Iguatu e Quixadá, além dos localizados na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), como Caucaia, Cascavel, Chorozinho e Pacajus.
"A relação dos beneficiados sempre varia e depende do Ministério. Ela pode aumentar ou reduzir muito pelos investimentos realizados pelo governo estadual e federal", avalia o coordenador da Operação Carro-Pipa no Ceará, coronel Claudemir Rangel, da 10ª Região Militar.
Nessa semana, o governo federal anunciou repasse da ordem de 789,9 milhões para ações emergenciais. O Ministério da Defesa, por meio do Exército Brasileiro, também receberá aporte financeiro para perfurar e instalar poços profundos em áreas de cristalino e sedimentar.
O objetivo é ampliar e melhorar as ações da Operação Carro-Pipa, operacionalizada pelo Exército, ao reduzir a distância entre a coleta de água e o abastecimento de comunidades afetadas pela seca. "E isso virá nos ajudar a ampliar a perfuração e instalação de poços. Nessa primeira fase, estão em execução 195. Até o fim do ano, serão mais 255, perfazendo um total de 450. A ação cria novo ponto de captação e melhor, com água de boa qualidade. O 1º Grupamento de Engenharia, com sede em João Pessoa (Paraíba) é responsável pelas obras", afirma.
O tempo é um segundo motivo, apontado por ele, para esse trabalho. "Em fonte distante 30Km, por exemplo, o pipeiro conseguia fazer três viagens para as localidades mais próximas e em nascente de 100Km, ele só faz uma viagem. Com isso, temos que contratar mais gente para fazer o percurso, encarecendo a operação", comenta.
A proposta do Comando Militar do Nordeste é substituir alguns pontos de abastecimento ou cisternas, onde a água é transportada por meio de carros-pipas por poços artesianos. A iniciativa possibilitará uma oferta maior de água boa para as populações rurais atingidas pela estiagem e seca há cinco anos.
Quadro
O professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e PhD em mudanças atmosféricas, Alexandre Costa, avalia que, numa situação "dramática", como a que se enfrenta hoje, tudo vale para levar água para as comunidades mais afetadas, como a construção de adutoras de engate rápido, perfuração de poços e o carro-pipa. Entretanto, aponta, a qualidade desse recurso é questionável, mesmo com tudo que tem sido feito. "Sei da escavação de poços, mas a água ofertada de locais desconhecidos, pode gerar consequências mais graves, como doenças que podem deixar sequelas para sempre, principalmente em crianças e nos idosos, sem falar no desenvolvimento cognitivo", frisa.
Na sua percepção, o carro-pipa é uma realidade histórica e deve persistir por muito tempo. "Mas é preciso buscar outras fontes confiáveis e garantir que, em momentos como esse, a gente fique buscando soluções paliativas e sem prosseguimento", diz.
A solicitação de atendimento pela Operação Carro-pipa é feita diretamente à Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração. A demanda é encaminhada ao Exército, que faz uma avaliação técnica em conjunto com a prefeitura. Constatada a necessidade, o município é incluído na operação e passa a receber água por meio dos carros-pipa contratados pelo governo federal.
No Nordeste, são beneficiadas cerca de 3,9 milhões de pessoas. Para executar a logística, são contratados 6.891 pipeiros que atuam em 79 mil pontos de abastecimento e cisternas coletivas, na proporção de 20 litros de água por pessoa, por dia, apenas para consumo humano.