A necessidade cada vez maior de as empresas se reinventarem coloca a criatividade como uma das soft skills mais desejadas pelo mercado de trabalho. É com criatividade que se inova em processos, produtos e serviços. É com criatividade que se ganha a preferência do consumidor. Como argumenta José Predebon, o mais antigo professor do ramo que continua em atividade, autor do livro “Criatividade: abrindo o lado inovador da mente”, “a inovação em si chega a ser um diferencial competitivo e, com isso, a criatividade fica em alta”. Em um mundo tão competitivo, com significativas mudanças de comportamento do consumidor, se sobressai quem consegue enxergar soluções inovadoras.
No ambiente de negócios, criatividade e inovação são quase inseparáveis. “A inovação parte da oportunidade e/ou necessidade que percebemos, a partir de um olhar atento para tendências de consumo”, observa Camila Coutinho, Gerente Nacional de Marketing, na Minalba Brasil. Seguindo esse olhar, explica a executiva, a empresa lançou recentemente sua água mineral em lata. “A necessidade de inovar, de fazer melhor o que já se tem dentro do conceito da melhoria contínua ou mesmo de inovar trazendo algo totalmente novo, disruptivo, passa pelo exercício da criatividade e pode/deve estar em todas as áreas de um negócio”, afirma Camila Coutinho.
Algumas pessoas são naturalmente mais criativas. Mas, felizmente, a criatividade pode ser desenvolvida e exercitada por qualquer indivíduo. “Criatividade é uma característica da espécie humana, e em cada pessoa acontece o seguinte: o que é praticado se desenvolve, e o que não é usado se atrofia”, afirma José Predebon. Em seu livro, o autor defende o princípio da universalidade, que diz que todos somos criativos em algum grau. A aceitação disso de forma plena ou parcial cria o sentimento de “ser capaz”, o que ajuda no desenvolvimento da criatividade.
Assim como o professor, o designer cearense Mateus Montenegro (@mateusmontenegrodesign), sócio-diretor e designer gráfico na Montenegro Design, em Fortaleza, também acredita que ser criativo é mais um exercício do que um dom.
“Até chegar naquela ideia genial, passo por dezenas, às vezes, centenas de outras. É mais um processo do que uma qualidade pessoal”, afirma o profissional, que já atua há 20 anos no mercado, premiado no ano passado no Worldwide Logo Design Award (WOLDA), festival internacional de design gráfico.
Chama acesa
Exercitar a capacidade criativa é quase uma postura diante da vida. É manter a mente aberta para as possibilidades. E uma das formas de facilitar esse processo é praticar o autoconhecimento, pois ajuda a identificar aquilo que desbloqueia a mente para a criação. “O equilíbrio da vida no dia a dia é muito importante. Eu tento manter esse equilíbrio com hobbies – desenhar me faz esquecer do stress – esporte e exercícios físicos – faço musculação diariamente e comecei recentemente o Crossfit. Um bom filme ou série também traz momentos de relaxamento e descontração para a correria diária”, diz Mateus Montenegro.
Para Camila Coutinho, manter a chama da criatividade acesa passa pelo exercício diário de se lembrar que não sabemos de tudo. “Devemos sempre estar abertos ao novo. Além dessa postura, como soft skill, para que você tenha o conteúdo que será ferramenta para a criatividade, é necessário ter repertório. Não só o dos livros, mas repertório que se adquire em viagens, rodas de conversas, situações cotidianas, uma bagagem que o mundo traz se você estiver aberto e com os olhos bem atentos para receber. Identificar a oportunidade para o lançamento de um novo produto requer análise de cenário, de comportamento, contato com o mundo, com gente”, argumenta a gestora da Minalba Brasil.
O que atrapalha
Os vilões da criatividade podem estar dentro de si ou no meio em que se vive. “Para mim, é o stress, com problemas em casa – meu escritório é em casa – ou pessoais. Muitas vezes o barulho atrapalha, então se o ambiente de trabalho for menos caótico, para mim ajuda bastante”, conta Mateus Montenegro. No caso dele, mudar de ares ajuda a desbloquear as ideias. “Muitas vezes, acontece comigo de conseguir chegar a um resultado criativo quando estou no carro indo pegar minhas filhas na escola, ou até mesmo no chuveiro, ou seja, quando nos desconectamos um pouco”, diz.
A cultura organizacional, em alguns casos, pode ser o maior vilão dos profissionais criativos. De acordo com o professor José Predebon “ambiente normativo”, “chefia castradora” e “clima de insatisfação” são os fatores que mais bloqueiam o exercício da criatividade nas empresas. “Além de afastar os vilões, a organização pode encorajar o risco, nunca punir o erro e sempre premiar o sucesso”, opina o escritor, como forma de as empresas ajudarem a desenvolver o pensamento criativo no ambiente corporativo.