Vereadores de Fortaleza aprovam moção de solidariedade à delegada que denunciou racismo

O inquérito policial que investiga o suposto crime está sob análise da Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza; tema foi levado à tribuna da Câmara

A Câmara Municipal de Fortaleza aprovou nesta quinta-feira (23), por unanimidade, um requerimento que envia moção de solidarierdade à delegada da Polícia Civil Ana Paula Barosso, que no início da semana denunciou ter sido vítima de racismo ao ser impedida de entrar em uma loja Zara, em um shopping da Capital. 

O requerimento foi proposto pelo vereador Roniovaldo Maia, que é líder do PT na Casa. Na tribuna da Câmara, diversos parlamentares se manifestaram em favor da moção, e prestaram solidariedade à vítima. 

O inquérito policial que investiga o suposto crime está sob análise da Delegacia de Defesa da Mulher de Fortaleza. Em uma defesa inicial, a empresa disse que não houve racismo e que o procedimento adotado pelo segurança da loja no episódio faz parte de protocolo sanitário contra a Covid-19.

Repercussão

A vereadora Larissa Gaspar (PT) comentou o ocorrido, e disse se tratar de algo extremamente doloroso. "Racismo é crime. É preciso que o poder público atue na sociedade e faça um debate para enfrentar esse crime" completou. 

Autor do requerimento aprovado, Ronivaldo Maia agradeceu pelo engajamento dos demais vereadores, e afirmou que a questão é um resquício do racismo estrutural no País. 

"Não toleramos na nossa cidade posturas racistas. Esse Poder, ao votar essa moção, dá esse recado", disse o vereador autor da matéria. 

Membro do Pros, Sargento Reginauro fez um paralelo com o racismo sofrido diariamente por policiais, segundo sua visão. "A Polícia é uma instituição comumente acusada de racismo. Não tem como a PM ser racista, porque é uma instituição feita de negros; não é o mesmo para delegados, de nível superior. Porém tivemos uma delegada negra sofrendo racismo", argumentou. 

Adriana Nossa Cara (Psol) também usou seu tempo de fala para tratar do caso. Na tribuna da Casa, ela comentou não se tratar de um fato isolado.  

"Muitas vezes, eu mesma andando em lojas populares fui seguida algumas vezes junto com as minhas filhas, porque esse não é o perfil que essas lojas identificam como clientes", testemunhou. 

Relembre o caso 

Segundo o relato registrado em Boletim de Ocorrência Eletrônico (BOE), Ana Paula chegou à loja por volta de 21h20 da terça-feira (14), consumindo um sorvete. Ao tentar entrar, foi barrada por um segurança do estabelecimento. De acordo com a denúncia, ao perguntar se o motivo seria o sorvete e colocar a máscara de proteção, ela não teria tido resposta. Segundo a loja, a abordagem foi realizada pelo gerente da unidade da Zara. 

A empresa diz que o procedimento faz parte de protocolo sanitário contra a Covid-19. 

"Ele já foi retirando, impedindo o ingresso na loja. Ela foi colocada para fora da loja", informou a delegada que investiga o caso, Anna Nery, sobre a postura do funcionário. 

Vídeos feitos por câmeras foram enviados à Perícia Forense, onde serão checadas possíveis adulterações, e os laudos devem sair entre 15 e 20 dias, conforme Anna Nery.