O senador cearense Eduardo Girão (Novo) é citado em dois trechos do relatório da Polícia Federal (PF) que apura a tentativa de golpe de Estado no Brasil. O documento foi enviado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), para a Procuradoria-Geral da República (PGR). O parlamentar cearense não é investigado no inquérito.
A primeira citação ao senador ocorreu em uma conversa entre o major Rafael Martins de Oliveira, o Joe, e o então ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid. No trecho, a PF aponta a articulação de integrantes do Governo Federal na mobilização de manifestantes antidemocráticos. Para isso, uma das estratégias dos investigados seria usar declarações de políticos bolsonaristas ou com interlocução com seus eleitores para aumentar a adesão aos atos.
"Os diálogos demonstram que já havia uma interlocução entre lideranças das manifestações antidemocráticas e integrantes do governo do então presidente Jair Bolsonaro, por meio de militares ‘Kids pretos’, para dar respaldo e intensificar os movimentos de ataque às instituições. Percebe-se que no dia 11 de novembro de 2022, já havia a intenção de que as manifestações fossem direcionadas fisicamente contra o STF e o Congresso Nacional, fato que efetivamente ocorreu no dia 08 de janeiro de 2023", aponta a PF.
Na conversa, Cid encaminha um vídeo do deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos-SP), que fazia um "chamado à Nação Brasileira" para ir até a Praça dos Três Poderes, em Brasília, e se manifestar". Em seguida, Joe responde com o link de uma publicação de Girão na qual o senador dá "boas-vindas" aos
manifestantes que iriam se dirigir ao parlamento brasileiro. O parlamentar do Novo ainda usou uma foto do Congresso tomado por manifestantes para ilustrar a publicação.
“SEJA BEM VINDO! Visita às vezes necessária p exercício da cidadania em momentos cruciais. Minha esperança é ver cada vez + brasileiros acompanhando a política, reivindicando- respeitosa e pacificamente-junto ao Parlamento q cumpra o seu dever constitucional. Levanta Senado! Paz & Bem”, escreveu Girão em 11 de novembro de 2022.
A segunda citação ao senador ocorre no trecho em que a PF descreve a audiência realizada no Senado em 30 de novembro de 2022, na Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC), para discutir "a fiscalização das inserções de propagandas políticas eleitorais".
"Os investigados aproveitaram o evento para propagar informações falsas sobre as urnas eletrônicas e o processo eleitoral de 2022, como forma de acirrar as manifestações que estavam ocorrendo naquele momento. Entre os convidados para o evento estavam os investigados Carlos Rocha, do Instituto Voto Legal, e o consultor político Fernando Cerimedo. Ambos aproveitaram o momento de visibilidade para disseminar os “estudos técnicos”, já descritos no presente relatório, que teriam identificados falhas e vulnerabilidades que colocaram em descrédito o pleito presidencial de 2022", aponta a PF.
O que diz Girão
Procurado pela reportagem, Eduardo Girão disse que uma das citações é "apenas uma reprodução de uma postagem feita no X (twitter)". "Onde destaco textualmente que os atos reivindicatórios do 8 de janeiro devem ser respeitosos e pacíficos; e uma segunda menção trata-se de uma antiga notícia na qual, em novembro de 2022, abordou audiência pública realizada na Comissão de Transparência e Controle do Senado que discutiu a fiscalização das inserções de propagandas políticas eleitorais", comentou.
Na nota, o político ressalta que "a referida sessão foi legitimamente aprovada — e por unanimidade entre partidos de esquerda e direita —, obedecendo o regimento da Casa".
"De forma republicana foram convidados a participar da discussão inúmeras entidades da sociedade civil, entre elas OAB, Polícia Federal, ministros do TSE, STF e TCU e outras autoridades do mundo jurídico, objetivando, portanto, um amplo debate sempre em conformidade com os ditames legais e regimentais do Senado da República", acrescenta.
O senador do Novo conclui reforçando que as menções a seu nome "não ensejam qualquer ofensa à moralidade e ética".
"Repudio com veemência qualquer ilação ou ataque à minha reputação como político e/ou como cidadão. Minha trajetória de vida é e sempre será pautada em favor de valores e princípios éticos e pela pacificação do País. Medidas judiciais cabíveis serão prontamente adotadas caso tentem conectar meu nome a qualquer ilícito", concluiu.