A atuação política da vereadora Marielle Franco durante o mandato na Câmara Municipal do Rio de Janeiro foi determinante para a execução da parlamentar no dia 14 de março de 2018. O atentado contra a política também resultou no assassinato do motorista Anderson Gomes.
As informações sobre a motivação para o crime contra Marielle foram detalhadas em coletiva concedida na tarde deste domingo (24), pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandovski, e pelo diretor da Polícia Federal, Andrei Passos.
Os dois reforçaram que o assassinato não teve uma motivação única, mas envolveram um cenário "complexo", como definiu Passos. "Voltamos ao tempo. (Em 2018,) a vereadora faz parte de um grupo político antagônico a esse grupo que nós identificamos como mandantes do homicídio e que, portanto, tinha vários contraditórios não só no plenário como na vida pública como um todo", explicou o diretor da PF.
O grupo político citado por Passos é o liderado pelos irmãos Domingos Brazão - conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) - e do deputado federal Chiquinho Brazão. Os dois foram presos na manhã deste domingo como suspeitos de serem os mandantes do assassinato de Marielle. Além deles, também foi preso o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa.
Durante a coletiva, Ricardo Lewandovski leu dois trechos da decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, ao autorizar as prisões preventivas dos suspeitos. No trecho, é citado diretamente o relatório da Polícia Federal que embasou as prisões.
Em um dos trechos, Chiquinho Brazão é citado diretamente. Em 2018, ele era vereador do Rio de Janeiro, portanto colega de Marielle Franco na Câmara de Vereadores.
É detalhado que o planejamento do crime começou ainda no segundo semestre de 2017, "ocasião na qual ressaltamos a descontrolada reação de Chiquinho Brazão a atuação de Marielle na apertada votação do projeto de lei nº 174/2016". A proposta citada trata de regularização fundiária na capital carioca, impactando áreas de interesse dos irmãos Brazão.
O relatório da PF, lido por Lewandowski, indica ainda o envolvimento dos irmãos Brazão "com atividades criminosas, incluindo as relacionadas com a milícia e a grilagem de terra". "E por fim, ficou delineada a divergência, no campo político, sobre questões de regularização fundiária e direito à moradia", diz o relatório.
"Me parece que, de todo esse volumoso conjunto de documentos que recebemos, esse é o trecho sgnificativo que mostra a motivação básica do assassinato da vereadora Marielle Franco, que se opunha a esse grupo que, na Câmara Municipal, queria regularizar terras para usá-las para fins comerciais, enquanto o grupo da vereadora queria usar essas terras para fins sociais, de moradia popular", avaliou o ministro da Justiça.
Operação Murder Inc.
A Polícia Federal deflagrou, neste domingo (24), a Operação Murder Inc., referente ao caso do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
A Operação também cumpriu 12 mandados de busca e apreensão, também na capital fluminense. A Procuradoria-Geral da República e o Ministério Público do Rio de Janeiro participaram da ação.
"Dia histórico"
A família de Marielle Franco divulgou uma nota após a operação que resultou na prisão de três suspeitos de participação no assassinato da vereadora. No texto, eles destacam que este domingo "é um dia histórico para a democracia brasileira e um passo importante na busca por justiça no caso de Marielle e Anderson".
Apesar de destacar o avanço nas investigações, a nota aponta que, até o momento, "ninguém foi efetivamente responsabilizado" pelo crime.
"Todas as prisões são preventivas e ainda há muita coisa a ser investigada e elucidada, principalmente sobre o esclarecimento das motivações de um crime tão cruel como esse. Mas, os esforços coordenados das autoridades são uma centelha de esperança para nós familiares", ressaltam.