Em meio à crescente exigência por geração de energias limpas e renováveis no mundo, os governadores dos nove estados do Nordeste se reuniram, nesta sexta-feira (5), no Centro de Eventos do Ceará, para alinhar estratégias que possibilitem a instalação de usinas de hidrogênio verde na região. O evento, organizado pelo Consórcio Nordeste, contou com a presença do ministro de Minas e Energias, Alexandre Silveira.
Segundo apuração do Diário do Nordeste, o ministro deve anunciar 56 bilhões de reais em investimentos na transmissão de energia na região, o que poderá destravar até 120 bilhões de reais em investimentos de geração de energia.
O Nordeste é visto como estratégico para instalação das usinas, devido aos fortes ventos e incidência solar — o que possibilita a utilização de energias limpas (eólica e solar) na produção de hidrogênio em grande escala, com o selo "verde". Ou seja, com baixa ou nula emissão de gás carbônico (CO2). O Ceará, inclusive, tem várias outorgas de empresas estrangeiras que desejam produzir a energia renovável no Estado.
A maioria das outorgas dão prazo para as empresas se instalarem e começarem operar até 2026. No entanto, segundo o presidente do Consórcio Nordeste e governador da Paraíba, João Azevêdo (PSB), as linhas de transmissão de energia presentes no Nordeste são insuficientes para escoar a energia para todo o País. Por isso, segundo ele, é necessário ampliar o prazo das outorgas e abrir novos leilões para instalação de linhas de transmissão na região. Esse assunto, inclusive, é discutido com o ministro.
"Hoje, nós precisamos dotar a região de uma infraestrutura de conexão que não existe atualmente. O operador nacional não autoriza nenhum novo projeto, exatamente por falta dessas linhas de transmissão. Então, nós temos uma lógica para se permitir o desenvolvimento real. Primeiro: as linhas de transmissões têm que ser construídas. Segundo: o prazo de construção tem que ser compatível com as outorgas já emitidas, porque, senão, essas empresas levarão esses investimentos para outras regiões, onde os pontos de conexões estão disponíveis"
Governador do Ceará
O governador Elmano de Freitas (PT) vê com otimismo a reunião de todos os gestores nordestinos com o ministro para discutir o assunto, já que possibilitar o crescimento da região por meio das energias renováveis também impactará no desenvolvimento do País, que pode vir a se tornar um importante exportador de hidrogênio verde.
"Há uma grande mudança no mundo de matriz energética. O mundo demanda por produções de mercadorias que tenham como base energia limpa. E o Brasil pode ser um grande protagonista internacional de mudança da sua industrialização, termos uma industrialização verde. E, evidentemente, no Brasil, o Nordeste é a região que tem melhores condições"
Na ocasião, o governador afirmou, inclusive, que espera que o ministro anuncie leilão de novas linhas de transmissão de energia no Nordeste e prorrogue o prazo das outorgas.
"Eu não posso exigir que uma usina passe a operar, se eu não tenho uma linha de transmissão para essa energia poder escorrer. Então, eu acho que nós vamos encontrar um entendimento com o ministro para que tenhamos essa prorrogação. E o ministro deve anunciar, estamos nessa expectativa, o leilão de linhas de transmissão no Nordeste", ressaltou.
Sobre o tema, o ministro disse que gostaria de ouvir as demandas dos governadores antes de fazer qualquer anúncio. Todavia, ele destacou que o seu ministério está "debruçado" sobre a questão da transição energética.
"Nós sabemos que a (transição energética) é fundamental para a economia do País ser protagonista em um tema em que ele tem tantas potencialidades, e essas potencialidades Deus quis que estivessem muito concentradas no Nordeste. O sol que tanto castigou nossos irmãos nordestinos é base de prosperidade através da geração de energia limpa e renovável. Há uma política muito clara no governo do presidente Lula de estimular essas energias para que a gente possa ser protagonista no mundo"
Pauta prioritária
A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), elencou a ampliação de usinas solares, parques eólicos e a produção de hidrogênio verde como pauta prioritária dos governadores do Nordeste com o Governo Federal. Para ela, a "conjuntura de diálogo" com o presidente Lula (PT) abre portas para projetos que gerem emprego, renda e deem protagonismo à região.
O Rio Grande do Norte é líder em produção de energia eólica no País, com mais de 220 empreendimentosgeradores de energia.
"O Nordeste responde por 70% da produção de energia eólica no contexto do Brasil, e, em particular, o Rio Grande do Norte continua líder na produção de energia eólica do País. A presença do ministro de Minas e Energia hoje é de justamente consolidar o compromisso do Governo Federal em dar continuidade à expansão dos investimentos nessa área de energias renováveis, assegurando a realização dos leilões (para linhas de transmissão) até dezembro deste ano", reforçou.
O governador do Maranhão, Carlos Brandão (PSB), também concorda com Fátima e reforça que o diálogo com o Governo Federal trouxe mais "otimismo" para os governadores.
"O Nordeste nunca viveu um momento tão propício, de tanta harmonia com o Governo Federal, como está vivendo agora. A maioria dos governadores do Nordeste apoiaram o presidente Lula, o presidente Lula teve uma vitória esmagadora no Nordeste, é nordestino e tem uma boa relação com todos os governadores", declarou.
Para o governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), a atração de mais empresas para desenvolver enegerias renováveis na região é "a grande alavanca" para os nordestinos.
"Essa reunião de hoje é para tratar, especificamente, sobre o tema da energia renovável, essa que, na nossa visão, é a grande pauta do Nordeste, pode ser a grande alavanca de desenvolvimento dos estados nordestinos, em especial o Piauí, que tem grande potencial eólico e solar já constatado. (...) Então, eu tenho certeza que para o Ceará isso também é muito importante", destacou Fonteles.
Ampliação logística
Governadora de Pernambuco, a governadora Raquel Lyra (PSDB) destacou, também, a importância de tirar do papel a Transnordestina, já que a linha férrea beneficiaria a logística de toda a região. A Transnordestina é projetada para ligar o Porto do Pecém, no Ceará, ao Porto de Suape, em Pernambuco, além de abranger parte do Piauí.
A primeira etapa da obra ainda está em execução. A previsão é para 2026.
"Nós temos muita capacidade logística, de energias renováveis, de cultura, turismo, economia criativa. E a questão da Transnordestina impulsiona a logística Nordestina, tem a ver com a gente poder conectar o estado do Piauí, o estado do Ceará ao Porto de Suape e permitir que, mais adiante, Paraíba e Alagoas possam sonhar com os portos viabilizados", destacou Raquel Lyra.