Eleição nos EUA: quais as chances de Kamala Harris no Partido Democrata e como se definem os nomes

Diário do Nordeste consultou especialistas e mapeou o passo a passo da possível nomeação da vice-presidente dos EUA para a disputa eleitoral

A desistência de Joe Biden da disputa eleitoral estadunidense abriu um precedente inédito no Partido Democrata, que até então nunca teve um pré-candidato declinando do pleito semanas antes da convenção que iria formalizar seu nome. Com isso, a vice-presidente do país, Kamala Harris, ganhou o protagonismo da corrida eleitoral, se tornando a predileta para assumir a missão. 

Kamala já tem a vantagem de possuir o aparato de campanha pronto e acesso aos fundos de campanha e de grupos afiliados. Pelo que avalia o grupo político do qual faz parte, o apoio do atual mandatário poderá ainda influenciar o voto dos representantes estaduais nela, já que venceu as prévias com o aval deles. A pequena vantagem entre o candidato do Partido RepublicanoDonald Trump, e ela também é um ponto que pesa ao seu favor. 

A saída do postulante se deu após sucessivos episódios que colocaram em dúvida a aptidão do chefe de Estado para assumir um novo mandato, caso fosse eleito. A discussão sobre o assunto acontecia internamente desde junho e se acentuou após o desempenho negativo que teve no primeiro debate presidencial, em 27 de junho. Apoiadores e aliados pressionaram pela sua desistência.

Decisão em convenção

Com a retirada do seu nome, as principais lideranças da agremiação — inclusive o próprio Biden — apoiam a condução de Harris para a função. A definição só irá ocorrer no dia 19 de agosto, em Chicago, a partir da chancela de delegados que representam a legenda nos estados. Se o desejo se materializar, ela se tornará a primeira mulher negra dos EUA a encabeçar uma chapa para o comando da Casa Branca. 

"Essa escolha é conhecida como 'prévias das Convenções Partidárias', porque sinaliza o comportamento eleitoral da maioria dos estados. O candidato que obtiver metade mais 1 dos votos desses delegados se habilita a seguir para a próxima fase. Somente a partir daí, os eleitores começam a se manifestar, de maneira facultativa", explicou a professora Mariana Andrade, do curso de Direito da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Professor e pesquisador do Instituto Presbiteriano Mackenzie, o analista político Victor Missiato apontou que, no caso americano, "a convenção costuma ser apenas uma ratificação de toda a definição que foi feita anteriormente". "Ou seja, é institucionalizado na convenção, mas já foi realizado antes", completou.

Nos Estados Unidos, o sistema eleitoral favorece o bipartidarismo para o cargo de presidente da República, de modo que o Colégio Eleitoral tem os dois principais partidos como as únicas opções nas urnas. Historicamente, por configurações próprias do processo estadunidense, em que o voto é indireto, os republicanos e os democratas têm se revezado no comando do país desde 1852. Partidos menores ou candidatos independentes têm dificuldade para se viabilizar e participar do pleito. 

A força de Kamala

No entendimento de Mariana Andrade, que é doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Kamala "tem despertado o entusiasmo dos financiadores de campanha, além de possuir muita credibilidade pela trajetória como promotora e, depois, procuradora-geral". Para a docente, esses fatores "justificam a rápida adesão dos delegados e a quase unanimidade para endossar o apoio à candidatura dentro do partido".

"Até agora, mais de 200 políticos democratas já manifestaram adesão a seu nome, o que é um feito, tratando-se de uma mulher negra como cabeça de chapa na corrida presidencial", reforçou a entrevistada ao Diário do Nordeste. 

Em uma declaração recente, no último domingo (21), por meio das redes sociais, a vice-presidente e candidata virtual ao pleito falou que irá trabalhar pela união do Partido Democrata e do país, para que saia vencedora do "corpo a corpo" com Trump.

Indagada pela reportagem sobre o que quer dizer esse aceno, Andrade apontou que, com o pronunciamento, "ela joga uma isca para tentar captar o respaldo do ex-presidente Barack Obama". O ex-mandatário é uma figura central para o grupo democrata.

Para Missiato, Harris chega com uma 'grande união'. "Ainda não há um posicionamento muito claro do principal líder dos democratas hoje, que é o Barack Obama, mas os principais governadores dos Estados Unidos já prestaram apoio a Kamala Haris", complementou, citando a postura adotada por Biden em favor dela.

Além disso, o especialista comentou que ela poderá atrair votos em localidades específicas, em que o voto ainda não está definido. "Ela vem para chacoalhar alguns 'swing states', que aqui no Brasil se fala 'estados-pêndulos', que normalmente variam seus votos nas eleições americanas", concluiu.

Passo a passo da nomeação

Entenda como funciona a escolha de presidenciáveis para a disputa eleitoral nos EUA e qual rito será cumprido até lá:

  • Prévias: No início de junho, os partidos Republicano e Democrata indicaram, respectivamente, Trump e Biden para a disputa. Essa primeira etapa são as prévias, em que cada estado indica um número de delegados proporcional à votação popular e essas pessoas escolhem quem deve seguir para o embate. 
  • Resultado das prévias: Biden recebeu os votos de 3.896 dos 3.934 delegados disponíveis no meio democrata. Essas pessoas agora poderão, ou não, apoiar Kamala.
  • Chancela: Uma votação virtual estava marcada para nomear oficialmente Biden antes da convenção, marcada para agosto. Com a saída dele, ainda não se sabe se ela continua de pé. 
  • Duas possibilidades: A escolha de Kamala poderá ocorrer por meio da votação virtual ou na convenção do partido — nesta última são realizados fóruns, discussões e a reunião dos delegados.
  • Formação da chapa: A expectativa é que nesse procedimento de escolha saia também candidato ou candidata à vice-presidente.
  • Dia da eleição: O "Dia D" da democracia estadunidense é 5 de novembro deste ano. O vitorioso ou vitoriosa tomará posse em 20 de janeiro de 2025.