Saldo das urnas sinaliza movimentos de forças políticas para 2022

Passada a disputa municipal, dirigentes de partidos com maior musculatura no Ceará avaliam os resultados obtidos como estratégicos para pretensões eleitorais nos próximos dois anos. Alguns rumos, porém, estão em aberto

Os números revelados pelas urnas nas eleições municipais de 2020 no Ceará indicam que, nos próximos dois anos, os dirigentes de partidos com maior musculatura precisarão sentar à mesa e alinhar rumos do ponto de vista eleitoral, tanto na oposição quanto na base aliada para 2022.

Se pelo lado da oposição houve um fortalecimento do grupo em cidades estratégicas, como Caucaia, Juazeiro do Norte e a manutenção de Maracanaú, na base o PDT conseguiu se consolidar como a maior força do Ceará, ao garantir Fortaleza e vencer na maior parte das prefeituras.

Enquanto o bloco oposicionista tenta se fortalecer para voltar a ser competitivo na disputa pelo Governo do Estado, os aliados do Palácio da Abolição tentam administrar o extenso grupo, que cobra cada vez mais espaços na gestão, e evitar insatisfações até a data da eleição geral.

Apesar do grupo governista ter sido derrotado em Caucaia e ter vencido com margem apertada em Fortaleza, o presidente estadual do PDT, André Figueiredo, minimiza o avanço da oposição no pleito.

Para ele, o cenário é favorável ao partido que venceu em 67 dos 184 municípios, e elegeu 581 vereadores. "Ganhar ou perder faz parte do jogo, o que importa é que temos perto de 90% das prefeituras do Ceará conosco", garante.

Figueiredo diz que a sucessão vai ser discutida "no momento adequado" e que o objetivo, agora, "é manter a base coesa". Qualquer conversa para 2022, segundo o deputado federal, passa pelo projeto de desenvolvimento nacional do partido que tem Ciro Gomes como protagonista na corrida presidencial.

Questionado se o PT deve pleitear a manutenção do Palácio da Abolição para 2022, o presidente estadual da legenda, Antônio Filho, conhecido como Conin, afirma que a sucessão no Estado será conduzida pelo governador Camilo Santana, e que não está sendo pautado ainda o futuro do governador. O dirigente especula que o aliado poderia disputar o Senado ou, inclusive, ser uma opção para uma eventual disputa nacional. Conin comemorou o resultado das urnas para o PT.

"Nós tínhamos 14 prefeitos e passamos para 18. Tiramos 535 mil votos para prefeito aqui no Ceará. Em 2016, tivemos 489 mil. Teve um crescimento de 7%. Foi um bom crescimento. Aumentamos os números de prefeitos, de votos para prefeitos e de população que vai ser governada por prefeitos do PT", aponta.

Aliança

Depois de romper com o governador Camilo Santana, Domingos Filho migrou para a base em 2018, antes da disputa pela reeleição. Com o PSD fortalecido na eleição municipal, se tornando a segunda maior força do Estado, o presidente estadual garante que se mantém na base governista até lá. 
"Somos da base, damos apoio na Assembleia Legislativa. Tivemos sempre juntos dentro desse modelo de governança. Temos uma relação política tranquila com o governador e isso vai orientar os nossos projetos", afirma.

Ex-vice governador na gestão Cid Gomes, Domingos Filho pediu votos para o governo em 2014, esteve no grupo até 2016 e logo depois rompeu com o Palácio da Abolição — retornando antes da reeleição do petista. Na eleição municipal deste ano, Wagner acabou concorrendo ao Paço Municipal ao lado da nova liderança no grupo da oposição, o senador Eduardo Girão (Podemos).

Oposição

Capitão Wagner, que terminou a disputa em Fortaleza com 48% dos votos, celebrou o crescimento da oposição no Ceará. Presidente estadual do Pros, ele aponta como "cidades estratégicas" as vitórias em Caucaia e São Gonçalo do Amarante. O desafio, agora, é unir setores da oposição e tentar resgatar lideranças perdidas ao longo dos últimos anos, como, por exemplo, o PSD de Domingos Filho e o PSDB de Tasso Jereissati.

Em conversa com o Diário do Nordeste, o ex-senador Eunício Oliveira garante que, apesar da proximidade com o governador Camilo Santana, não tem compromisso político com o petista. "Tenho uma relação pessoal com o Camilo, de amizade. Não é uma relação política, nunca fui aliado do Camilo politicamente. Não tive aliança com o PT em 2018. A oposição não votou em mim porque achava que eu estava aliado com eles", lembra.

Passada a corrida eleitoral de novembro, o MDB já se antecipa e se articula para os desafios eleitorais. O dirigente afirma que o próximo passo do partido é fazer um trabalho de base no interior. "Combinei com Leonardo ( Araújo, deputado estadual) que vamos fazer um programa a partir de janeiro. Do MDB voltar a fazer encontros, visitar município a munícipio e saber quem é liderança ali, quem é e quem não é", ressalta.

Para o ex-presidente do Congresso Nacional, os partidos que fazem ou fizeram oposição no Ceará continuam fortes para uma possível união daqui a dois anos. Para o emedebista, eventual aliança entre MDB, Pros e PSD seria "uma chapa para ganhar a eleição". "O PSD é forte no interior. Eu, modéstia à parte, sou forte no interior. Na Região Metropolitana tem Vitor Valim (Caucaia), o Roberto Pessoa (Maracanaú), em Juazeiro tem um cara que não é aliado dos Ferreira Gomes (Glêdson Bezerra), e em Sobral tem uma força (contra o grupo). O cenário está posto, daqui a 15 meses a gente vai saber".

Articulações

Para a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, a eleição de 2022 terá uma oposição diferente da que foi vista em 2018, quando o PSDB lançou General Theophilo para concorrer ao pleito com Camilo Santana.

Para a pesquisadora, há, agora, uma oposição mais organizada. "Wagner e Girão investiram pesado em municípios estratégicos. Eles tinham um plano, uma ação. Esses colégios eleitorais são grandes, mas também estão entre os maiores PIB's", analisa.

Monalisa Torres argumenta que Caucaia e Maracanaú são municípios polo que atendem a diferentes comunidades, e que podem agregar mais lideranças periféricas. "Eu acredito que a oposição sai fortalecida porque conquista municípios importantes que podem ampliar a influência para outros municípios. Agora a gente tem uma oposição organizada. O que a gente tinha eram lideranças que estavam descoordenadas. Girão assume esse protagonismo de um líder da oposição que coordena as ações", complementa.

Governo

A pesquisadora lembra outra liderança que deve ser considerada nas negociações para a próxima disputa, que é o prefeito reeleito de Eusébio, Acilon Gonçalves. O grupo liderado pelo gestor venceu eleições também em Aquiraz, Cascavel, Pindoretama, Beberibe e Itaitinga. "A figura do Acilon se fortalece, e hoje ele é aliado do Governo".

O cientista político Francisco Moreira Ribeiro considera que o PDT saiu da disputa extremamente fortalecido e que, "se não houver grandes atropelos, se não acontecerem fatos que realmente venham a obstacularizar o desempenho, acho que ele (partido) consegue se organizar para fazer o novo governador", diz o pesquisador.

Segundo Moreira, a oposição ainda precisa consolidar uma "cara" para ir para o pleito garantindo uma unidade. "Qualquer um da oposição (hoje) não tem fôlego suficiente para suplantar o poder nessa disputa", prevê. Para o professor, o grupo precisa consolidar palanque nacional para se firmar na oposição.

Proporcional

Em 2022, a eleição para deputado estadual e deputado federal deverá seguir os trâmites da disputa para o Legislativo Municipal deste ano. Ou seja, sem coligação. Os partidos sairão em chapas individuais.

Vagas

A eleição geral, daqui a dois anos, deverá eleger novos deputados estaduais, federais, senadores e governadores nos estados, além do presidente da República.

Forças partidárias para 2022

Lideranças dos partidos com maior expressividade no Ceará avaliam o cenário eleitoral da disputa municipal e projetam as articulações para a sucessão estadual.

Eunício Oliveira (MDB)

Avaliação: Apesar da queda na quantidade de prefeituras, continua relevante no interior do Estado para as 
discussões de sucessão estadual.

Perpectiva: Partido diz não ter relação política com o Governo e pode liderar uma frente contra o grupo pedetista na eleição para Governo e Senado.

Conin (PT)

Avaliação: Partido cresceu em número de vereadores eleitos e de prefeituras. Governador petista deve comandar a sucessão. 

Perspectiva: PT espera manter o Governo do Estado ou tentar uma vaga no Senado. A sigla quer garantir uma disputa majoritária.

Domingos Filho (PSD)

Avaliação: Partido se fortaleceu na disputa de novembro e segue como a segunda maior força do Ceará, atrás apenas do PDT. 

Perspectiva: Legenda quer se manter na base aliada do governador Camilo Santana para a eleição de 2022. 

Capitão Wagner (Pros)

Avaliação: Partido elegeu o prefeito do segundo maior colégio eleitoral do Ceará, e domina a partir de 2021 prefeituras estratégicas, como São Gonçalo do Amarante.

Perspectiva: Legenda quer articular uma frente de oposição contra o grupo do governador do Estado. A aposta é na unidade da oposição.

André Figueiredo (PDT)

Avaliação: PDT elegeu 67 prefeitos e se firmou como a maior força partidária. Tem a prioridade na mesa de negociação com aliados.

Perspectiva: Partido quer discutir a sucessão estadual com foco na disputa presidencial de Ciro Gomes. A aliança local precisa dialogar com o cenário nacional.