Preso na última terça-feira (16), o deputado da ala bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ) tem uma passagem Polícia Militar e uma carreira política nanica marcada por bandeiras antidemocráticas. Às 17h desta sexta-feira (19), ocorrerá o julgamento sobre sua prisão na Câmara dos Deputados.
Uma reportagem do Jornal O Globo levantou o histórico período em que ele foi policial militar e constatou 26 dias de prisão, 54 de detenção, 14 apreensões e duas advertências. As punições ocorreram durante cinco anos, nove meses 17 dias. A maioria delas foi por falta e atraso no trabalho.
Para explicar porquê de o deputado estar no centro das discussões, o Diário do Nordeste selecionou os principais pontos sobre Silveira
Quem é Daniel Silveira
Daniel Lúcio Silveira, de 38 anos, nasceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Ele é bacharel em Direito pela Universidade Estácio de Sá. Foi eleito deputado com 31.789 votos totalizados (0,41% dos votos válidos) nas eleições 2018. Em 2019, tomou posse na Câmara. Para a função, recebe um salário mensal bruto de R$ 33.763.
O que ele fazia antes de ser deputado
Antes de investir na carreira política, Daniel era cobrador de ônibus em Petrópolis. De acordo com reportagem do O Globo, enquanto esteve na função, utilizou atestados falsos para faltar o serviço entre 23 de dezembro de 2006 a 17 de janeiro de 2007.
Quem assinava os atestados era o faxineiro de uma unidade hospitalar do Município. O deputado nega que soubesse que o homem não era médico. Daniel chegou a ser acusado pelo crime de falsidade material de atestado, que prescreveu em 2016 e foi arquivado.
Quando se tornou policial militar
Daniel tentou ingressar na PM do Rio em 2011. Mas, por ter registros na polícia pelos atestados falsos, foi reprovado. Em 2014, recorreu à Justiça e conseguiu fazer parte da corporação.
Carreira militar
As faltas no trabalho de cobrador se repetiram na corporação. O levantamento realizado pelo O Globo mostra que, quando trabalhava na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, no Rio, Daniel faltou oito vezes. Também deixou de ir trabalhar nos carnavais para os quais esteve escalado, em 2015 e 2016.
Durante sua passagem pela PM, que durou cinco anos, nove meses e 17 dias, somou 26 dias de prisão, 54 de detenção, 14 repreensões e duas advertências por faltas e atrasos. Para justificar uma de suas ausências e não ser punido, disse que faltou para ajudar a esposa. Mas não comprovou a situação com documentos.
O surgimento da carreira política
Discípulo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Daniel é dos que reproduzen o bordão “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Esteve nas manifestações antidemocráticas e era assíduo nas redes sociais, com vídeos com diversos discursos a favor do presidente e contra “comunistas”.
Durante a campanha de 2018, quebrou uma placa da vereadora Marielle Franco, que havia sido assassinada em março daquele. Ganhou visibilidade naquele momento dos seguidores ideológicos de Bolsonaro e foi eleito.
Em entrevista à Revista Piauí comentou sobre o episódio: “A repercussão foi exatamente a que eu imaginava”. “O recado era muito simples: não permitir que, em nome de uma ideologia, possam vandalizar e tomar um território público”.
O que fez na política
Daniel apresentou 47 projetos de lei e relatou seis nestes dois anos. Veja os principais deles:
- Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para tornar o Rio de Janeiro uma segunda capital do País
- Criar o Dia Nacional em Memória das Vítimas do Comunismo no Brasil
- Proibir o empregador de exigir que o trabalhador seja vacinado contra a Covid-19 para fins de admissão ou manutenção do emprego
- Tipificar os grupos “antifas” (antifascistas) como organizações terroristas
Por que ele foi preso
O parlamentar foi preso na noite de terça-feira (16), após divulgar um vídeo com discurso de ódio contra os integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF). No vídeo, ele xingava e sugeriu agressões contra o ministro Edson Fachin, além de Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Dias Toffoli.
Ele também elogiou o Ato Inconstitucional Número 5 (AI-5), que intensificou a censura, tortura, cassou direitos e suspendeu habeas corpus durante a ditadura militar. Lei trecho do discurso:
"Por várias e várias vezes já te imaginei (Fachin) levando uma surra. Quantas vezes eu imaginei você e todos os integrantes dessa corte aí. Quantas vezes eu imaginei você na rua levando uma surra. O que você vai falar? Que eu tô fomentando a violência? Não, só imaginei. Ainda que eu premeditasse, ainda assim não seria crime, você sabe que não seria crime. Você é um jurista pífio, mas sabe que esse mínimo é previsível. Então, qualquer cidadão que conjecturar uma surra bem dada nessa sua cara com um gato morto até ele miar, de preferência após a refeição, não é crime".
O STF decidiu, por unanimidade, manter o deputado preso.
Porque os perfis nas redes sociais foram bloqueados
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, decidiu, nesta sexta-feira (19), deixar indisponíveis os perfis do deputado federal no Instagram, no Facebook e no Twitter.