Planalto aborta posse de novo titular do MEC e já procura substituto

A posse do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, foi adiada depois de reveladas incoerências em seu currículo, como o registro de títulos de cursos inconclusos. O Governo repensa a permanência dele no cargo

O presidente Jair Bolsonaro começou a revisitar a lista de cotados para o Ministério da Educação (MEC). Os nomes de Sérgio Sant'Ana, ex-assessor do ex-ministro Abraham Weintraub, e de Renato Feder, secretário de educação do Paraná, voltaram ao centro da discussão na sucessão do MEC.

Para o lugar de Decotelli, a cúpula militar passou a sugerir o professor Marcus Vinicius Rodrigues, ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Já o grupo próximo ao ex-ministro Abraham Weintraub voltou a defender os nomes do secretário de Alfabetização do Ministério da Educação, Carlos Nadalim, e do presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Benedito Aguiar.

Os nomes passaram a ser avaliados mais uma vez depois das notícias sobre informações falsas no currículo de Carlos Alberto Decotelli, nomeado na semana passada para o cargo. O Governo Federal decidiu, ontem (29), adiar a posse do ministro e fazer um pente-fino em sua carreira.

Embora ainda não tenha sido chamado na Presidência, até o meio da tarde, Sant'Ana tem forte apoio da ala ideológica do Governo. O ex-assessor de Weintraub é próximo do secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, que voltou a ser cotado para a Pasta, e também do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro.

Já o secretário do Paraná, Renato Feder, preferiu não comentar sobre as novas movimentações em relação à troca de chefia no MEC. Na semana passada, o nome de Feder ganhou força, mas ele acabou não sendo escolhido pelo presidente. Os militares do Governo apoiam o nome do educador Antônio Freitas, que também estava entre os cotados antes da nomeação de Decotelli, e de Antônio Testa, que chegou a fazer parte do MEC e foi demitido pelo ex-ministro Ricardo Vélez Rodríguez.

Demissão

Segundo interlocutores, a situação de Carlos Alberto Decotelli ficou complicada, e sua demissão está em avaliação.

O mal-estar causado pelo novo ministro levou estresse ao Planalto. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, chegou a confrontar militares que capitanearam o apoio a Decotelli para o MEC.

O ministro afirmou que tinha doutorado pela Universidade Nacional de Rosário, o que foi desmentido pelo próprio reitor da instituição, Franco Bartolacci.

Além disso, foram encontrados indícios de plágio na sua dissertação de mestrado. Ontem (29), outra distorção no currículo de Decotelli ficou evidente. Mesmo sem ter doutorado, continuava constando na plataforma Lattes um "pós-doutorado", que ele diz ter feito na Universidade de Wüppertal, na Alemanha. A instituição confirmou que Decotelli fez uma pesquisa na universidade em 2016, por três meses, mas destacou não ter emitido qualquer título a ele.

Após encontro com Bolsonaro, o ministro negou que tenha cometido plágio em dissertação de mestrado e disse que continua à frente do cargo. "Eu sou ministro e tenho trabalhado. Agora, vou ficar até a noite para corrigir ajustes no Sisu e no Enem", disse Decotelli na noite de ontem (29).

Em entrevista, na frente do Ministério da Educação, ele relatou que o presidente pediu esclarecimentos sobre informações equivocadas em seu currículo e discutiu novos programas da Pasta.

Bolsonaro disse, em rede social, que há "inadequações" no currículo do ministro, mas que Decotelli tem "capacidade" de ocupar o cargo. "Desde quando anunciei o nome do Professor Decotelli para o Ministério da Educação só recebi mensagens de trabalho e honradez. Por inadequações curriculares o professor vem enfrentando todas as formas de deslegitimação para o Ministério", publicou Bolsonaro.

"O Sr. Decotelli não pretende ser um problema para a sua Pasta (Governo), bem como, está ciente de seu equívoco. Todos aqueles que conviveram com ele comprovam sua capacidade para construir uma Educação inclusiva e de oportunidades para todos", acrescentou o presidente.

Pressão

Durante a manhã de ontem (29), após a suspensão da cerimônia de posse, a cúpula militar ainda tentava reverter uma demissão do novo ministro. Aliados do presidente, próximos do ex-ministro Abraham Weintraub, entraram em contato com Bolsonaro para convencê-lo a indicar outro nome para o Ministério.

A pressão foi reforçada por deputados bolsonaristas, aliados dos filhos do presidente, que sugeriram que ele faça uma nova rodada de sondagens. Com a decisão de Bolsonaro, parcela do núcleo fardado, que apadrinhou a nomeação de Decotelli, desistiu de insistir na permanência dele no comando do MEC.