Em alguns municípios cearenses, eleitores devem se deparar com antigos conhecidos nas urnas. Levantamento realizado pelo Sistema Verdes Mares identificou que, pelo menos, 57 ex-prefeitos tentam retornar ao comando dos executivos municipais.
Estas lideranças ficaram fora da prefeitura por alguns mandatos, mas agora concorrem novamente aos cargos em 56 cidades do Ceará. A repetição de antigas figurinhas revela uma ausência de renovação das lideranças políticas, principalmente em municípios menores.
Dentre aqueles que tentam voltar ao poder, existem os que venceram as eleições em 2012, mas não conseguiram a reeleição nas últimas disputas municipais, em 2016.
Outros casos comuns são os ex-gestores que foram eleitos para dois mandatos, em 2008 e 2012. Portanto, não poderiam concorrer em 2016 — a legislação brasileira permite apenas dois mandatos consecutivos no Executivo. Agora, após um intervalo de quatro anos, eles retornam às urnas para tentar mais um mandato.
Alguns outros conquistaram um ou dois mandatos na prefeitura dos municípios nos últimos 16 anos e agora voltam a disputar o cargo.
O levantamento foi feito com base nos dados disponíveis no sistema do Tribunal Superior Eleitoral, Divulgacand 2020, que é onde ficam as informações das eleições municipais desde 2004.
Alternância
São 22 ex-prefeitos que tentam retornar ao cargo após terem perdido a disputa pela reeleição em 2016. Em Jaguaruana, a ex-prefeita Ana Teresa (PT) foi derrotada por uma diferença de cerca de 850 votos para Roberto da Viúva (PDT). Neste ano, os dois se enfrentam novamente mas em situações inversas - enquanto Roberto tenta a reeleição, Ana Teresa faz oposição ao prefeito e quer derrotá-lo nas urnas.
Caso semelhante ocorre em Tauá, onde a deputada estadual licenciada Patrícia Aguiar (PSD), esposa do ex-vice-governador Domingos Filho (PSD), também tenta retornar à Prefeitura após perder a disputa pela reeleição. Em 2016, ela foi derrotada por Carlos Windson, que foi cassado em 2018.
Quem assumiu foi o vice, Fred Rego (DEM), que também concorre ao executivo neste ano. Ambos são ligados ao grupo político do deputado estadual Audic Mota (PSB), em uma rivalidade histórica na política da cidade.
A cientista política Carla Michele Quaresma chama atenção para uma tendência, principalmente em cidades menores, de uma polarização entre dois grupos políticos - normalmente, cada um é formado por uma família tradicional do município.
"São sempre as mesmas pessoas, ligadas a estas famílias numerosas", afirma. O fenômeno, explica, não é exclusividade cearense, sendo comum a cidades menores em todo o País. Ela ressalta ainda que existe não apenas a perpetuação de um grupo político no Poder em algumas cidades, mas também uma manutenção da polarização na disputa.
"Não se dá espaço para o surgimento de outras lideranças. Sempre que surge uma candidatura nova, os grupos, que por muito tempo disputaram a hegemonia na cidade, acabam se unindo para derrotar o novo candidato. Mesmo que na eleição seguinte eles já estejam em palanques separados de novo", relembra. Assim, explica ela, eles mantêm o revezamento entre apenas dois grupos políticos no Poder daquela cidade, que polarizam a disputa.
Retorno
Outro fator que influencia, segundo ela, é que os políticos costumam controlar os diretórios municipais dos partidos. "Sempre quando aparece algum candidato trazendo uma novidade ou um sentimento de renovação, há essa recuperação de um ex-prefeito para a disputa", explica Quaresma.
Maranguape, por exemplo, será a única cidade em que dois ex-prefeitos estarão disputando o Executivo municipal. Átila Câmara (SD), que também perdeu a reeleição em 2016 após um mandato à frente da Prefeitura, e George Valentim (PSB), que exerceu mandato entre 2009 e 2012, estarão de volta às urnas.
Também na Região Metropolitana de Fortaleza, Roberto Pessoa (PSDB) retorna à disputa municipal. Principal liderança do grupo político que governa Maracanaú há dezesseis anos, o tucano tentará ser o sucessor de Firmo Camurça (PSDB) que, por sua vez, foi o seu sucessor em 2008. Pessoa foi eleito prefeito em 2004 e 2008, passando oito anos à frente do Executivo municipal. Em 2012, apoiou Camurça - que encerra, em 2020, oito anos comandando a Prefeitura da cidade.
Gestão
Outros 11 ex-prefeitos que tentam retornar ao posto em 2020 exerceram mandatos nas prefeituras após serem eleitos em 2004 e 2008, assim como Roberto Pessoa. Um dos casos é na Capital, onde a petista Luizianne Lins tenta, pela quarta vez, ser prefeita de Fortaleza. Após mandatos entre 2005 e 2012, a agora deputada federal não conseguiu eleger o sucessor Elmano de Freitas nas eleições de 2012 e acabou em terceiro lugar na disputa municipal de 2016.
No caso de 14 ex-gestores, o intervalo entre os últimos mandatos e a nova eleição é ainda menor.
Em cidades como Aurora, Cariré, Farias Brito e Guaramiranga, dentre outras, os ex-prefeitos que estão retornando às urnas exerceram mandato entre 2009 e 2012. Como a legislação brasileira permite apenas dois mandatos consecutivos no Executivo, eles não concorreram em 2016 para a Prefeitura, mas retornam a essa disputa em 2020.
Em Caucaia, por outro lado, o espaçamento foi maior. Zé Gerardo está de volta à disputa eleitoral depois de ter sido prefeito entre 1997 e 2000. Na chapa que concorre à prefeitura pelo MDB, a candidata a vice, Inês Arruda, também é uma ex-prefeita.
No Ceará, esse não é o único caso de ex-gestoras de volta às urnas no cargo de vice. Em Coreaú, a candidata a vice Erika (PDT) foi eleita prefeita da cidade em 2012, mas perdeu a reeleição em 2016 para o atual prefeito Edezio Sitonio (PDT), com quem forma chapa agora.