Em meio às críticas sobre suas recentes declarações polêmicas, o presidente Jair Bolsonaro recebeu, nesta terça-feira, o apoio explícito da Casa Branca. O presidente americano, Donald Trump, saiu em defesa do aliado brasileiro e da indicação de Eduardo Bolsonaro para a Embaixada do Brasil em Washington.
"Eu acho o filho dele excelente. Ele é um jovem brilhante, maravilhoso. Estou muito feliz com a indicação, acho que é uma ótima indicação", disse Trump, durante uma entrevista coletiva na Casa Branca, ao responder pergunta sobre o que achava da indicação do deputado federal (PSL-SP) e filho do presidente.
As palavras de Trump antecipam a decisão oficial de Washington de apoiar a indicação de Eduardo ao cargo diplomático. O filho do presidente terá ainda de ser sabatinado na Comissão de Relações Exteriores do Senado. Haverá uma votação secreta em sessão do Plenário da Casa. É necessário alcançar mais da metade dos votos favoráveis à indicação, estando presentes, pelo menos, 41 senadores.
No último dia 26, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, confirmou que o Brasil já enviou para o governo dos EUA a consulta para a indicação de Eduardo. Na diplomacia, essa consulta é chamada de agrément.
Questionado se a nomeação de Eduardo configuraria nepotismo, Trump negou. "Não, não acho que é nepotismo porque o filho ajudou muito na campanha. O filho dele é extraordinário". Na Casa Branca, Jared Kushner, genro de Trump, é um dos assessores mais influentes do presidente.
Declarações
Os comentários elogiosos de Trump não devem influenciar a decisão dos senadores de aprovar ou não o nome de Eduardo para a função.
"O que vai definir é o desempenho na sabatina, não vai ser comentário vindo do presidente dos EUA", declarou, nesta terça-feira, o presidente da Comissão de Relações Exteriores no Senado Federal, Nelsinho Trad (PSD-MS).
A indicação de Eduardo pode quebrar uma tradição dentro do Itamaraty, desde a redemocratização, de ter no comando da embaixada em Washington sempre um diplomata de carreira.
Reação
As críticas à indicação do filho são vistas como um dos fatores que levaram Bolsonaro a acirrar o discurso sobre diversos assuntos, informou o jornal Folha de S.Paulo, citando como fonte pessoas próximas ao presidente.
Em conversas reservadas, o presidente disse a aliados que vê nos ataques a Eduardo uma ofensa pessoal e que, por isso, seria sua obrigação sair em defesa pública do filho.
Uma das recentes falas controversas do presidente foi dada na segunda-feira, quando ironizou o desaparecimento de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), durante o regime militar. A origem do ataque presidencial tem a ver com a atuação do órgão na investigação do caso de Adélio Bispo, autor do atentado do qual Bolsonaro foi alvo em Juiz de Fora (MG), em 2018.
"Por que a OAB impediu que a Polícia Federal entrasse no telefone de um dos caríssimos advogados? Qual a intenção da OAB? Quem é essa OAB?", indagou o presidente.
A imprensa internacional destacou os disparos verbais de Bolsonaro.
Para o site da rede britânica BBC, a "rajada verbal" de Bolsonaro acontece após a vitória do Governo na votação, em primeiro turno, da proposta de reforma da Previdência na Câmara dos Deputados.
"O presidente engatou em uma série de falas e críticas que tinham como alvos figuras bastante variadas: os jornalistas Miriam Leitão, da TV Globo, e Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil; o fim da exigência de cursos em autoescola para a obtenção da carteira de motorista; os governadores 'de paraíba', termo pejorativo usado para referir-se aos Estados do Nordeste", listou a BBC.
Alvos da retórica do presidente
Presidente da OAB
Irritado com a atuação da Ordem no caso Adélio Bispo, Bolsonaro deu sua versão para a morte do pai do presidente da OAB na ditadura
Criador do The Intercept
Glenn Greenwald, jornalista do site que divulga mensagens vazadas de Sergio Moro, pode "pegar cana" no Brasil, disse presidente
Líderes do Nordeste
"Daqueles governadores de paraíba, o pior é o do Maranhão. Não tem que ter nada com esse cara". A frase do presidente fez o Fórum dos Governadores do Nordeste a divulgar nota de repúdio