O presidente Jair Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre quem vai substituir Sérgio Moro no Ministério da Justiça. No último sábado (25), ele reuniu aliados no Palácio da Alvorada para discutir nomes. A escolha deve ocorrer até amanhã, segunda-feira (27).
O preferido de Bolsonaro é o seu atual ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, que tem a confiança do presidente e de seus filhos.
A avaliação no Palácio do Planalto, no entanto, é de que nomear alguém próximo neste momento pode potencializar as acusações de Moro, que ao se demitir disse que o presidente queria fazer interferência política na PF. Pelo mesmo motivo, a nomeação de Alexandre Ramagem, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), para o comando da Polícia Federal, também está sendo repensada.
Um nome que ganhou força ontem para o lugar de Moro é o do desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, ex-presidente do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região. Ele é uma indicação de integrantes da ala militar do governo. O nome do Advogado-Geral da União, André Luiz Mendonça, também passou a ser considerado.
A exemplo do que ocorreu em outras substituições de ministros, o grupo mais próximo ao presidente tenta encontrar nomes que possam ter respaldo na opinião pública e livrar o governo de críticas. Bolsonaro, por sua vez, insiste que precisa ter uma pessoa de confiança no cargo.
Caso a escolha recaia sobre Oliveira, o atual chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Flávio Rocha, iria para o seu lugar na Secretaria-Geral. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Instabilidade
O Diário do Nordeste procurou cientistas políticos na tentativa de analisar o que acontece neste momento no Brasil e de projetar o que está por vir.
“Creio que é o momento mais grave desde que ele (presidente) tomou posse”, analisa o cientista político e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cleyton Monte. As rusgas gratuitas, a necessidade de rivalizar as instituições e a rotina do “fogo-amigo” não têm ajudado o presidente a evitar problemas, muito menos a solucionar crises já existentes, segundo o pesquisador.
Para Cleyton, a gestão é baseada em alicerces, como o apoio dos militares, eleitorado pró-Lava Jato e antipetistas, que podem, na medida em que laços, eventualmente, forem sendo desfeitos, abandonar a confiança no presidente, principalmente com a oposição ao Judiciário e ao Parlamento. Monte lembra que Bolsonaro já havia construído crises com os poderes antes mesmo da demissão de Moro.
Articulações
“Ele já vinha em um momento de distanciamento das instituições, fazendo críticas ao Supremo Tribunal Federal, batendo de frente com Rodrigo Maia e tinha carta de quase todos os governadores contra ele. O presidente estava isolado do Congresso, do Judiciário e dos governadores. Já estava vivendo uma situação difícil. Agora, com a demissão (de Moro), isso aprofunda o isolamento e a crise”, avalia o pesquisador.
O pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, ao STF, para abrir inquérito sobre os fatos narrados por Sérgio Moro é mais um elemento que, segundo Cleyton, deve trazer dores de cabeça ao chefe do Planalto. Mais do que o resultado da investigação, ele avalia que as etapas podem desgastar o Governo.
“O STF vai ser outra frente de problema para o presidente. Essas investigações levam tempo. A PGR instiga o STF, que vai pedir documentos, pedir detalhes à Polícia Federal. Aí você cria uma novela que, todo dia, tem um episódio. Mais do que o resultado, grave é o processo, é o percurso, porque todo dia vai estar na imprensa”, projeta.
Para o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando, a saída de Moro pode ser o início de uma segunda etapa no Governo Federal. “O Governo Bolsonaro inicia-se alicerçado sobre dois pilares: Moro, simbolizando o combate à corrupção. Do outro lado, o pilar do liberalismo, com Paulo Guedes. Na sexta-feira (24), um dos pilares caiu, e o pilar Guedes apresenta rachaduras. Tudo aquilo que o ministro da Economia pensou para a vida dele, que era a diminuição do papel do Estado, teve que ser repensado por causa da pandemia do novo coronavírus”, cita.
O caminho para se manter vivo no Governo, segundo Prando, é o fortalecimento das relações com o Congresso. É neste ponto, porém, que o professor aponta o risco do discurso do presidente durante a campanha de lutar contra a “velha política”.
O Centrão, grupo de partidos que votam com o Planalto, tem como líderes figuras que já foram presas por corrupção, como Roberto Jefferson e Valdemar da Costa Neto. O Governo negocia com algumas destas siglas o apoio a um candidato governista na disputa pela Presidência da Câmara, no início de 2021. “A situação do presidente é delicadíssima. Se Maia e Alcolumbre ainda não se manifestaram, as articulações contra ele podem estar acontecendo”.
Rivalidade
Os embates de Bolsonaro com os demais poderes, segundo a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres, fazem parte de uma agenda de Governo. É com ela que o Planalto restaura forças políticas e ganha terreno em meio às dificuldades de articulação de bastidores no Congresso e de um trato republicano com o Judiciário.
“O Bolsonaro tem um método, que é sempre criar conflitos. São os conflitos que movimentam a base dele. É essa base que o mantém vivo. Quando ele toma a atitude de ir a protesto a favor do AI-5, tenta movimentar a base. Esse jogo contra as instituições é um método de criar crises e manter mobilizada essa base. Ele vai a uma manifestação contra o STF, mas, ao mesmo tempo, tenta criar uma relação com o Centrão para manter força no Congresso”, observa.
Diante da crise que se intensifica, Monalisa prevê uma aproximação do presidente junto aos partidos de Centro para manter a governabilidade e evitar possível afastamento. Torres, no entanto, não crê na possibilidade, no momento, de aceitação de pedidos de impeachment por parte de Rodrigo Maia. Ela ressalta que a matéria não deve “andar agora” porque o Governo ainda não perdeu completamente a popularidade, se mantendo em torno de 30%.
“Ele ainda tem certa popularidade, e não perdeu todo o apoio do Congresso. Ele ainda tem corpo para levar adiante, e acho que é por isso que o Maia ainda não aceitou pedido de impeachment. A aceitação de um pedido sem margem garantida para isso pode deixar Bolsonaro fortalecido caso seja barrado no meio, e Maia tem a plena consciência disso”, destaca.