Editorial: Aglomeração inaceitável

As aglomerações de pessoas converteram-se de imagens triviais em cenas impactantes, nos últimos meses. A transformação se deu por conta dos novos hábitos instituídos pela necessidade de se fazer isolamento social, como a sofrida medida que interrompe atividades consideradas não essenciais. Por conta do decreto estadual, determinando regras para o isolamento preventivo das pessoas, fundamental à contenção do contágio da Covid-19, reuniões do tipo tornaram-se até mesmo caso de polícia. Se alguns estados têm aventado medidas mais rigorosas, como o chamado "lockdown", isso se dá, em grande medida, por uma dificuldade de que a população fique em casa.

Oficialmente, o Brasil entrou no rol dos países atingidos pela pandemia no fim de fevereiro. Já são mais de dois meses de um cotidiano às avessas, em tempos negativamente excepcionais. De lá para cá, nem tudo ficou claro quanto ao presente da pandemia e o futuro do mundo, das pessoas e instituições. Contudo, há certezas que já se solidificaram, defendidas de par a par, no mundo, pelos especialistas em saúde. É o caso da importância do distanciamento, da necessidade de se evitar aglomerações e contatos físicos desnecessários.

A despeito disso, diariamente, se repetem cenas absurdas diante das instituições bancárias. As filas são longas, sem que entre as pessoas seja mantido um afastamento mínimo. As pessoas se amontoam, por horas seguidas. Não faltam exemplos de agências nas quais as filas começam a se formar ainda na noite do dia anterior, com multidões varando a madrugada, sem que sigam os protocolos sanitários recomendados. O caso não é pontual, repete-se em várias agências. O volume de pessoas, evidentemente, é mais intenso no começo do mês, mas no abril da pandemia, o mesmo foi observado ao longo do mês.

A demanda por serviços bancários é compreensível, cresceu. Contudo, não é razoável que tais aglomerações consolidem-se como uma constante nestes tempos de pandemia, quando são imperativos o esforço para se realizar o distanciamento social e se adotar cuidados mais rigorosos quanto à higiene.

Ao cidadão, cabe se imbuir do espírito de responsabilidade, que contemple o cuidado previdente com a sua própria saúde e com a do próximo. No entanto, há de se reconhecer, no caso de uma multidão, não se pode esperar que a ordem se dê de forma espontânea, partindo, no caso, daqueles que se enfileiram e se aglomeram na porta e nas imediações das agências. Se a situação se deu por todo o mês de abril e se repetiu em muitas agências, não seria razoável esperar que ela se solucionasse por si só.

Há muito o que pode e deve ser feito. Os benefícios governamentais precisam estar disponíveis por mais canais, para que não se acumulem multidões às portas de bancos públicos. Poderiam ser realizados se valendo de todo o sistema bancário. Para além desta medida, é preciso pessoal - com os devidos cuidados sanitários - para ordenar filas inevitáveis, garantindo o distanciamento mínimo entre as pessoas e buscando abreviar o tempo de espera.

Ao poder público, cabe exigir mudanças rápidas e eficientes. Tolerar tal situação é arriscar o aumento de número de casos dessa letal enfermidade que assola o mundo.