Proclamada pela ONU, a Década Internacional dos Afrodescendentes (2015-2024) tem como tema reconhecimento, justiça e desenvolvimento. Visa superar o racismo pela cooperação para o pleno aproveitamento dos direitos econômicos, sociais, culturais, civis, políticos e participação igualitária dos afrodescendentes na sociedade.
No planeta, negros/as têm sua identidade racializada de modo subalterno, o que lhes custa o trabalho de afirmá-la positivamente como humanização. Nesse propósito, devem ser advertidos a não cair no subjetivismo, na armadilha do identitarismo, de evidenciar unilateralmente a política de reconhecimento étnico hierárquica e excludente e apagar a política de redistribuição econômica.
A identidade racial é tecida numa cultura, tem a ver com as dimensões econômicas, políticas e sociais na qual estamos inseridos. Portanto, é algo objetivo, vinculado à materialidade do mundo. Somos atravessadas pela identidade em tudo que fazemos ou deixamos de fazer na nossa vida (HAIDER, 2019).
É um perigo recorrer a afirmação da identidade como condição do eu, focada nas atitudes pessoais descoladas das bases estruturais e institucionais da atual sociedade hiper reacionária, pois assim o racismo não será superado. A política de reconhecimento pode servir ao triunfo do novo liberalismo, posto que também constrói subjetividade e lugar de fala.
Importa ir além da versão liberal do antirracismo e considerar os perfis identitários dos minorizados na condição de sujeitos históricos, com a política inclusiva tanto de reconhecimento como redistributiva.
Não há modelo de negritude consagrado ou condenado, como foi incitado pelo BBB 2021, em que negros/as aparecem com narrativas destituídas de conteúdo e forma, sem ancoragens históricas do que representa viver num país em que a escravidão vigorou por quase quatrocentos anos e até hoje não foi superada.
Vale o esforço de construir formas de sociabilidade com possiblidade de desenvolvimento inscrita no trabalho, na cultura e na educação.
Há uma diferença entre identidade politizada, aquela voltada para a auto organização coletiva e a política identitária individualista que toma a identidade como ponto de partida para “lacração”. A luta antirracista consiste na busca da mudança das estruturas, ocupar para mudar, como força social emancipatória.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.