Temos assistido a casos de violência nas escolas que têm deixado muitos estarrecidos diante da dimensão desses atos e gerado debates sobre o que é possível fazer para reforçar a segurança nas instituições de ensino e quais respostas podem ser construídas para conter tanto ódio.
Pesquisas têm evidenciado que discurso de ódio veiculados nas redes sociais envolvem principalmente temas como xenofobia, intolerância religiosa e misoginia. É possível refletir sobre o perfil de quem é atacado nas redes sociais e que ganha forma nas escolas.
A escola é um espaço sociocultural onde convivem os conflitos e as contradições. O racismo, a discriminação racial e de gênero, que fazem parte da cultura e da estrutura da sociedade brasileira, estão presentes nas relações entre os educadores/as e/ou educandos/as.
Essas notícias me levaram a refletir sobre meu processo educacional e do quanto foi difícil para meus pais durante minha infância e adolescência me convencerem da importância da escolarização. Posto que eles acreditavam na educação como elemento propulsor de mobilidade e ascensão social para família negra e pobre como a nossa.
Como outras crianças negras ir para a escola era desafiante. Significava que enfrentaria conflitos raciais naquele ambiente hostil para os grupos racializados de forma discriminatória.
Durante o recreio ou em sala de aula era chamada de feia, negra macaca, negrinha do óleo Pajeú, expressão usada de forma pejorativa para se referir às mulheres e meninas negras, negada a minha identidade e tida como destituída de capacidade de apreender os conteúdos ministrados.
Uma análise apressada pode supor que isso é normal como coisa de crianças, e não tem desdobramentos maiores. Mas, ao contrário: interfere no processo de aprendizagem, pois exigiria que eu soubesse lidar com o desprezo do/as aluno/as e desatenção dos professores, diretores e outros que faziam parte da escola.
Minhas queixas sobre o racismo não eram escutadas e não havia a responsabilização dos que agiam com violência. Diante dos tencionamentos diários de desumanização era melhor, no meu entender, não ir e ampliar a fila da evasão escolar.
Estava ausente uma educação que valorizasse o reconhecimento da diversidade dos grupos sociais e raciais, o que tanto prejudicou e continua a impactar a trajetória escolar de crianças indígenas, negras, pertencentes aos povos e comunidades tradicionais.
A formação crítica e reflexiva sobre a necessidade de uma educação antirracista tem grande relevância porque o sistema educacional interfere diretamente na qualidade de vida das e futuro das pessoas.
Não é sem propósito que há 20 anos foi sancionada a lei 10.639/2003, temos outros marcos como diretrizes para a educação indígena e quilombolas e ainda não ganharam capilaridade necessária nos processos educacionais. A materialização da educação antirracista ocupa lugar central para evitarmos a violência nas escolas.
“Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor”.
Zelma Madeira é professora da Uece e Secretária da Igualdade Racial do Ceará