Com o escândalo da Abin — a Agência Brasileira de Inteligência usada pelo governo Bolsonaro para monitorar adversários e proteger a família —, o noticiário trouxe de volta o termo araponga e sua ação mais óbvia e imediata, a arapongagem.
Por que, então, uma ave tão barulhenta como a araponga (também conhecida como ferreiro) daria nome a um profissional tão discreto como um agente de informação da Abin?
Aí é que entra na história um escritor e dramaturgo genial chamado Alfredo de Freitas Dias Gomes (1922-99), conhecido simplesmente como Dias Gomes, nordestino da Bahia, o mesmo autor de “O Bem Amado” — a melhor representação da política brasileira de todos os tempos.
Mas, como diria o excelentíssimo prefeito Odorico Paraguaçu, “vamos botar de lado os entretanto e partir logo pros finalmente”.
Passamos a chamar os espiões de araponga depois de uma novela homônima escrita por Dias Gomes para a TV Globo, em 1990. Dirigida por Lauro César Muniz, o drama tinha como personagem principal um ex-agente dos serviços de informação da Ditadura, o atrapalhado e barulhento Aristênio Catanduva.
Quem fazia esse papel inesquecível da telenovela brasileira? Ele, óbvio, Tarcísio Meira. E todo mundo só chamava o Aristênio de... Araponga.
A partir dessa novela, qualquer detetive particular — mesmo do tipo que investiga traições amorosas — passou a ser um profissional da arapongagem.
Até o bisbilhoteiro comum do nosso dia-a-dia foi enquadrado no ofício de araponga. O inofensivo fuxiqueiro idem.
Óbvio que uma futrica de vizinhos é bem diferente do que a Polícia Federal investiga sobre Carlos Bolsonaro, apontado como um dos responsáveis pela “Abin Paralela”, um ninho de arapongas profissionais sempre de prontidão para prejudicar os adversários políticos do ex-presidente. Deduragem braba. Coisa típica dos tempos dos ditadores.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.