Caso fosse uma relação amorosa, como o próprio presidente da República gosta comparar as coisas da política, o casamento entre a população e Bolsonaro estaria por um triz — ou já teria ido para a tonga da mironga do kabuletê.
Que casal é capaz de suportar um índice de desconfiança de 52% de uma das partes? Nem que adote o mais desleixado método “me engana que eu gosto”. Esse é o índice dos brasileiros e brasileiras que dizem nunca confiar nas declarações presidenciais, segundo a última pesquisa do instituto Datafolha.
Para completar o inferno dos lares doces lares, 29% afirmam confiar apenas “às vezes”. O desconfiômetro bate a casa dos 81%, somando as situações de insegurança. Para seguir com a metáfora casamenteira, que criatura aguenta viver nesse inferno?
A confiança total e irrestrita está na faixa dos 18%, o que significa que a cada cem vezes que o presidente abre a boca, somente em 18 ocasiões merece algum respeito.
Nem com um intensivão de D.R. (discussão de relacionamento) torna-se possível ajeitar esse casamento entre povo e chefe de governo. Depois que se perde a confiança, qualquer mentirinha a mais é fatal. E lorota é o que não falta na rotina dessa convivência estragada.
Um não aguenta mais ver a cara do outro. Nem pintado patrioticamente de verde e amarelo. Sabe aquele momento em que você pega abuso? Falo abuso no sentido mais nordestino do uso do termo. Pegou abuso, adeus, dificilmente a situação tem remendo.
Chega aquele momento em que só nos resta fazer coro para uma canção de Toquinho e Vinícius de Moraes, com direito ao luxuoso xingamento em nagô:
“Você que fuma e não traga
E que não paga pra ver
Vou lhe rogar uma praga
Eu vou é mandar você
Pra tonga da mironga do kabuletê”.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.