Dez anos de junho de 2013 e a maldita confusão do Batman

Começou o festival de livros, filmes e debates sobre os dez anos do marcante junho de 2013, o ano da pororoca social, o rebuliço e revolta nas ruas brasileiras. A jornada que largou como protestos de esquerda (“Não é só pelos 20 centavos”) e, ao dobrar a esquina, virou uma avalanche da direita e da extrema-direita. Quarteirões depois, daria no golpe, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Na curva seguinte, elegeu Bolsonaro. O resto do desastre, você bem conhece.

Aos estudiosos, da sociologia ou da história, cabe entender o fenômeno. A este cronista, resta lembrar alguns personagens — relevantes ou folclóricos — daquele tumultuado período. Como o Batman do Leblon, por exemplo. Quem lembra da figura?

Só o Cavaleiro das Trevas seria capaz de banir de uma vez por todas os vilões tropicais. Foi movido por esta convicção que o protético Eron Morais Melo resolveu se vestir de super-herói nas manifestações de 2013.

Ele ficou famoso (no Facebook) depois de publicar a primeira treta. O homem-morcego havia sido interpelado na zona sul do Rio pelo cineasta Dodô Brandão: “O Batman é símbolo do capitalismo americano. Você é o símbolo da Justiça vestido de capitalismo americano?” A resposta viralizou: “Eu venho para rua combater. A quantos protestos você veio? Quantas vezes você foi às ruas para lutar pela população?”

A página “Batman dos Protestos” levou o carioca a virar celebridade nas redes. Pass a ser um personagem obrigatório em todas as manifestações, não importava a causa específica. Do movimento “Não vai ter Copa” (contra a realização do torneio de futebol no Brasil em 2014) à luta pela redução das tarifas dos transportes públicos.

O super-heroi emendou as jornadas de junho de 2013 com as passeatas pela queda da presidente Dilma. Missão cumprida, logo se engajou na pré-campanha de Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. Nas eleições municipais de 2016, virou candidato a vereador, mas obteve apenas 473 votos pelo PSC.

“Infelizmente [Jair Bolsonaro] não é um mito, é uma farsa. O socialismo é uma merda, mas não posso apoiar quem está há trinta anos na política e nunca fez nada,” afirmou Batman, decepcionado, ainda em 2018. Depois dessa temporada, parece ter aposentado o personagem. Santa confusão!, Batman.

Fantasia por fantasia, sou mais os super-heróis e a ingênua fuleragem do Trem da Alegria na beira-mar de Fortaleza. Até a próxima.