A velha política, livre de qualquer novidade, pega fogo, com toda sorte de mistificação e preconceito. A velha política pede abrigo no coração das trevas.
Mas o que interessa, neste momento, é o coração partido de Carolina, ainda menina para um amor tão punk-rock. Partido como em uma canção de Cazuza.
Ela me escreve e diz que achava que a dor, nestas ocasiões, era apenas simbólica. Ela diz que dói no osso, nas articulações, na sola dos pés, do-in às avessas, etc.
Sim, moça, dói como quem tem uma bala alojada no corpo. Dói como uma bala alojada em noite de inverno.
Como faz?
Eu digo: passa, não se avexe, mas tem o tempo disso, o luto, o processo.
Ela pergunta: quanto tempo?
Só o vento sabe a resposta, digo, num mix de J.M. Simmel e Bob Dylan.
O partido de Carolina é o do mais óbvio e destroçado coração partido.
Tem remédio?
Se a vida dói, drinque caubói, receito, diante da gravidade da hora.
Carolina sequer levou um pé-na-bunda, não rolou sequer o velho kichute do desprezo em desleais pontapés.
Carolina conta: simplesmente tomou conhecimento que o miserável-das-costas-ocas já havia mudado de mala e cuia para a casa da outra sem sequer avisá-la do triste ocorrido. Soube por uma amiga da amante.
Se a vida dói, drinque caubói, repito meu velho mantra.
Tente também a psicanálise, a terapia tradicional, a macumba, os florais, a tarja preta, a reza forte, os deuses que dançam em todas as tabas, florestas e terreiros.
Nada disso vai dar jeito imediato, mas tente, menina, tente. A gente precisa ter uma ilusão de cura nesse momento. Viver também é placebo.
Os amigos de esquerda, os colegas de direita, os queridíssimos anarquistas tentam falar de eleições com Carolina.
Não tem jeito. Seu coração partido está imune a discursos. O partido do coração partido não consegue fazer alianças oportunistas.
Não há segundo turno para os partidários do vexame amoroso.
Carolina escuta Françoise Hardy, Cat Power, Patty Smith, Tom Waits, Wander Wildner, Tatá Aeroplano e Robertão das antigas — “Olha dentro dos meus olhos, vê quanta tristeza / de chorar por ti, por ti…”.
Carolina escuta também um pouco do Chico, afinal de contas seu batismo é baseado na música homônima do cara: “Inútil dormir, a dor não passa”.
Daqui a pouco o sentimento vira o disco. Quanto tempo? Não faço ideia. É processo, inseto que vira borboleta, como num haikai, e pronto.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.