Apagaram o candeeiro e derramaram o gás

Neste junho que adentramos, tudo é traque, bomba e gatilho para as festas de Santo Antonio, São João e São Pedro. É o segundo ano seguido sem direito às farras de fogueiras e quadrilhas. O que me faz, até mesmo durante uma sessão de CPI da Pandemia, desviar o sentido da política para um clássico de Luiz Gonzaga e Zé Dantas. 

Não um sucesso qualquer, muito mais do que isso, talvez a metáfora beiradeira que nos diz tudo sobre o país no momento: “Eu nesse coco num vadeio mais/ apagaro o candeeiro, derramaro o gai”.

O que me levou ao arrastapé, por mais estranho que pareça, foi a definição da médica Luana Araújo para o ineficaz tratamento precoce à base de cloroquina: “neocuranderismo e iluminismo às avessas”. 

O apagão da ciência promovido pelo governo Bolsonaro e sua tropa de choque encontra na música de Gonzagão a imagem perfeita.

É isso, apagaram o candeeiro e derramaram o gás. A letra traduz, no popular, todo o obscurantismo que o gabinete paralelo do Planalto adotou nas questões da Covid-19. É o Brasil na vanguarda da estupidez mundial, é o Brasil delirante na borda da terra plana, como tratou a infectologista que passou apenas dez dias como secretária do ministério da Saúde.

O modo “iluminismo às avessas” não permite sequer um facho de luz, nem mesmo de vela ou lamparina, sobre a gestão bolsonarista. E não vale apenas para a emergência da pandemia. Tudo parece apagado.

Repare na encrenca do ministro Ricardo Salles no comando do Meio Ambiente. No instante em que o Brasil precisa mostrar ao mundo que cuida da preservação da Amazônia, o titular da pasta é acusado de ajudar os madeireiros a promover o desmatamento. Para onde a gente se virar no salão federal, é tudo breu. De meter o dedo no olho mesmo.

Em meio a tanta desgraceira, porém, finalmente a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pode aprovar, nesta sexta-feira (4), a Sputnik, vacina russa comprada pelo consórcio de governadores do Nordeste. Tomara Deus. Um alívio digno de fogos e rojões para Santo Antonio, São João e São Pedro.

*O texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.