Que o Ceará é abençoado, todo mundo sabe. Agora também terá uma santíssima trindade reconhecida pelo Vaticano. Depois da menina Benigna, oficialmente beata desde outubro, o padre Cícero terá seu processo de beatificação aberto pela cúpula da Igreja Católica no dia 30.
O próximo a se juntar aos filhos do Cariri é dom Hélder Câmara, nascido em Fortaleza, que acaba de ter o seu o nome autorizado pela Santa Sé para seguir os mesmos passos rumo à santidade.
Não há como negar que o Padim Ciço, mesmo enfrentando alguns problemas com os chefões de Roma, é santo por eleição direta do povo nordestino. Ninguém lhe tira esse título conquistado da forma mais democrática. É mais popular, aliás, do que os figurões santificados há milênios pelos papas.
Para quem morreu sob suspeita (acusado de “falsos milagres” e proibido até de celebrar missas) não deixa de ser uma reparação histórica relevante. Caso você queira se aprofundar sobre o tema, recomendo uma biografia fundamental: “Padre Cícero - Poder, fé e guerra no sertão”, do jornalista e escritor Lira Neto, meu colega de coluna aqui no Diário do Nordeste.
A saga de Benigna Cardoso da Silva, assassinada brutalmente aos 13 anos por resistir ao estupro de um vizinho na zona rural de Santana do Cariri, levou as autoridades católicas a reconhecerem como mártir da castidade. Em uma visão alternativa, a menina é vista também pelos devotos como um símbolo da luta contra os crimes de feminicídio. A tragédia ocorreu em 24 de outubro de 1941.
Para completar a trindade, um cearense que ganhou o mundo. Dom Hélder Câmara foi bispo auxiliar no Rio de Janeiro de 1952 a 1964. Depois chegou em Pernambuco, onde foi arcebispo de Olinda e Recife até 1999, quando morreu.
Dedicado à causa dos mais necessitados, o religioso deixou incontáveis milagres na área social. Perseguido pela Ditadura, disse uma frase que ficou para a história: “Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto porque eles são pobres, chamam-me de comunista”.