De repente, pintou uma despedida temporária do futebol, como parte dos esforços para conter um vírus que assola o mundo.
Embora ganhe a vida como comunicador, há momentos em que faltam palavras (absurdo reconhecer isso) ao se procurar traduzir uma despedida, mesmo que momentânea.
Ainda mais, porque numa despedida, as palavras nunca dizem tudo.
O futebol se foi, sem prazo para voltar, deixando todos nós, cronistas e torcedores, desolados e judiados.
A gente não quer só comida; a gente quer felicidade, afeto, diversão e a grande arte, que o futebol proporciona.
Ferreira Gullar, genial poeta, disse que “ a arte existe porque a vida só, não basta”.
Inegável a nossa dificuldade de falar e “batucar as pretinhas” (ato de redigir no teclado do computador) em torno de uma atividade apaixonante e, agora, ausente.
Mesmo com o nariz torcido de alguns intelectuais, o futebol é importante sim, e não pode ser ignorado.
É uma prática que materializa o prazer de jogar e ver jogar. Viver.
Vai além do entretenimento, das cifras, das regras, estatísticas. Se presta mais ao sonho, ao lúdico, num sentido amplo e poderoso.
Em crônica passada, num arroubo de entusiasmo, escrevi que se a visão do paraíso para um escritor é uma biblioteca. Para mim é um estádio lotado e colorido em suas arquibancadas.
Como disse Nelson Rodrigues, o futebol no Brasil se dá de forma atmosférica (respiramos futebol). Nos resta impedir que uma gripe malvada prejudique a nossa respiração.