Preconceito contra os volantes

Quando a repórter Denise Santiago, da TV Diário, sugeriu a Rogério Ceni que o Fortaleza enfrentaria o Ceará com três volantes, a reação do treinador foi imediata, negando o fato.

É sempre assim: o uso do volante, de um jeito ou de outro, às vezes, soa como uma espécie de ofensa ao treinador, dependendo de quantos irão a campo.

E, além disso, uma manifestação de preconceito, com relação a uma função modernizada para melhor há bastante tempo.

Ora, volante é volante e acabou a história. O que ele vai fazer, além de marcar, é o que importa e estamos conversados.

Concordo que essa função chegou a ser estigmatizada, quando esse jogador era chamado de “cabeça-de-área”, “cabeça de bagre” e outras cabeças, e tinha por obrigação carregar um estilo truculento de jogar.

Jogadores como Chicão, do São Paulo, e Dinho, do Grêmio, confundiam matar a jogada com “matar o adversário”, desde que a zaga fosse protegida.

Isso foi sendo desfeito, quando o futebol passou a exigir que, além de marcadores, os volantes soubessem construir jogadas, com passes precisos, e até aprimorassem finalizações para o gol.

Acho insuportável, quando um volante erra uma finalização e o repórter arremata: “Errou, mas está perdoado, pois essa não é a dele”.

Quem disse isso? Além dos meio- campistas mais recuados, os zagueiros, também, tiveram que aprender a dar passes e iniciar jogadas, para sobreviver no futebol atual.

Se até do goleiro se exige que jogue com os pés, imaginem zagueiros e jogadores de meio campo, mais marcadores.

Já se foi, há muito, o zagueirão “bumba- meu-boi”, o “beque de ataia”, que fazia a festa nos campos de terra, ao rebater uma bola que ganhasse altura para a galera vibrar.

Lembro, novamente, o depoimento de um dos maiores jogadores do Mundo, Zizinho, o “mestre Ziza”, que inspirou Pelé, sobre o assunto: “Não entendo como se coloca um jogador ‘grosso’ (aquele sem habilidades), num setor (o meio-campo), onde tudo começa e tudo termina”.

Isto é, Zizinho alertou para um fato verdadeiro: num setor, onde a imaginação e a habilidade são fundamentais, e a bola passa mais vezes no jogo, como se colocar, ali, um brucutu?

Meus jovens, estudem mais o futebol ou, como diria Nelson Rodrigues: “Envelheçam”.

Pela dignidade dos volantes.