Inesquecível o tempo de minha infância, no Crato, onde cheguei com nove anos de idade, em 1957.
E nela, claro, está cravado o futebol, como parte integrante.
Era o complemento para outras traquinagens que incluíam a exploração do sopé da serra do Araripe.
Tempo dos banhos da nascente, sem nenhum balneário construído na área.
Os riachos eram limpos e a água não era largamente barrada por tanques de cimento.
Tinha a subida do Lameiro, sem um trago de aguardente, mas com muita "danação" da meninada criada solta.
Escapulidas que Seu Martins cobrava até onde o cinturão alcançava.
Passadas as dores, o saldo dos momentos felizes é que importava.
Tudo tem seu preço, incluindo a felicidade.
Mas, sabem? O que sempre me puxou como um ímã foi o futebol.
Como os meninos da minha época não tinham dinheiro, ver o futebol, que só existia ao vivo, exigia o esforço de "pular o muro".
Foi o que fiz muito, nos Estádios Wilson Gonçalves (campo do Sport) e Pinto Madeira (campo do Cariri).
A não ser quando o bondoso dirigente Raimundo Nascimento permitia que eu e meu irmão Ítalo entrássemos "de graça", por conta de uma contribuição financeira que o meu pai dava para o Sport.
Todos os sacrifícios valiam a pena para ver de perto os ídolos municipais: Anduiá, Idário, Panquela, Bebeto, Binda e tantos outros.
"Pular o muro" tinha o gosto de façanha exagerada, na resenha da meninada.
As temporadas com times de fora aguçavam ainda mais o nosso interesse pelo futebol.
O Ferroviário cearense, de Damasceno, Wellington, Aldo e Garrinchinha, foi o primeiro time profissional que vi jogar em 1961, em amistoso contra Seleção Cratense, no Estádio Wilson Gonçalves.
O Ferrim venceu por 4 x 3 e um veterano, Antenor, fez os gols da Seleção do Crato.
Depois da satisfação em ver o jogo, veio o desejo de jogá-lo e me tornar jogador de futebol.
Foi no aspirante do Sport que despontei para o anonimato.
Aí, já é uma outra história (mal sucedida) para ser contada.