Confesso meu fascínio pelos pequenos estádios de futebol. Eles são únicos.
De preferência, os que têm poucas arquibancadas. A separar o torcedor do jogo apenas o alambrado.
Gramado quase inexistente. O campo de jogo com barro e algumas manchas de capim de burro, graças à uma neblina durante o dilúvio.
Nos "estadiozinhos", todo mundo se conhece. A ponto de se perguntar ao porteiro: "Meu amigo Sebasto já chegou?”
Jogadores, treinadores e árbitros sofrem com as pressões e insultos da torcida, como se ela estivesse dentro de campo.
No pequeno estádio, o torcedor acha que a aquisição do ingresso lhe dá o direito de esculhambar todo mundo.
Nesse ambiente tensionado, os bandeirinhas são os que mais sofrem, pela aproximação do torcedor apoiado no alambrado.
Já flagrei uma "recepção" dada a um bandeirinha que chegava à borda do campo: "Já chegou, né, ladrão sem vergonha? Trabalha direito, se não vai levar umas lapadas".
Mas, um certo dia, o bandeira levou a melhor com o torcedor, por conhecê-lo bem.
"Tu sabe o que tua mulher tá fazendo numa hora dessa ?", vociferou o torcedor.
Ao identificar o autor do xingamento, o bandeirinha devolveu: "A minha tá trabalhando em casa. A sua está lhe botando chifre com fulano de tal".
Coube ao xingador se afastar, esgueirando-se de fininho, morto de vergonha.
O bandeirinha sabia das "coisas".