O ano que não devia ter terminado

Coluna de Wilton Bezerra deste sábado (29)

Eu devia ter estacionado em 1962, um ano que não devia ter terminado.

Tinha 14 anos de idade, morava no Crato, o Brasil era bicampeão do Mundo, Garrincha entortava seus marcadores e estava perdidamente apaixonado pelo futebol.

Curiava as rádios Educadora e Araripe, assistia filmes nos cines Cassino e Moderno, comprava, toda segunda-feira, no Café Líder, de seu Orestes, os jornais O Globo e Última Hora.

Afora a música nordestina de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Marinês e sua gente, experimentava o som do rock brasileiro de Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga, Celly e Tony Campello, bem antes de Roberto Carlos e sua trupe.

A Bossa Nova entrava nos meus ouvidos muito vagamente, reconheço.

O futebol "de campo" do Crato era da melhor qualidade e fazia desfilar Laudemiro, Anduiá, Panquela, Idaril, Bebeto, Binda e outros craques.

Apesar da precariedade das comunicações, aquele 1962 era bom demais.

O Mundo fervilhava de novidades. 

A nossa vida era de menino das ruas e dos amigos. De  aluno relapso do Colégio Diocesano.

Das peladas nos campos do Cariri e Sport, das subidas do Lameiro e dos banhos da Nascente.

E com um detalhe: o golpe militar ainda não tinha acontecido.

Era bom. Era bom, demais.