Eu devia ter estacionado em 1962, um ano que não devia ter terminado.
Tinha 14 anos de idade, morava no Crato, o Brasil era bicampeão do Mundo, Garrincha entortava seus marcadores e estava perdidamente apaixonado pelo futebol.
Curiava as rádios Educadora e Araripe, assistia filmes nos cines Cassino e Moderno, comprava, toda segunda-feira, no Café Líder, de seu Orestes, os jornais O Globo e Última Hora.
Afora a música nordestina de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Ary Lobo, Marinês e sua gente, experimentava o som do rock brasileiro de Sérgio Murilo, Carlos Gonzaga, Celly e Tony Campello, bem antes de Roberto Carlos e sua trupe.
A Bossa Nova entrava nos meus ouvidos muito vagamente, reconheço.
O futebol "de campo" do Crato era da melhor qualidade e fazia desfilar Laudemiro, Anduiá, Panquela, Idaril, Bebeto, Binda e outros craques.
Apesar da precariedade das comunicações, aquele 1962 era bom demais.
O Mundo fervilhava de novidades.
A nossa vida era de menino das ruas e dos amigos. De aluno relapso do Colégio Diocesano.
Das peladas nos campos do Cariri e Sport, das subidas do Lameiro e dos banhos da Nascente.
E com um detalhe: o golpe militar ainda não tinha acontecido.
Era bom. Era bom, demais.