Minhas infantilidades

Sou feito de amor e pieguice, e as boas coisas do passado não largam do meu pé.

Sobre o que devemos escrever senão a respeito de nossa existência, trajetória de vida e paixão, socorridos por algumas cápsulas do tempo.

Mesmo porque nossas experiências e sentimentos é que contam.

Fazendo uso das lentes da memória, vou chegar à minha infância, na cidade do Crato, nos anos 50 e 60, sempre ao lado do irmão mais velho, Ítalo, dividindo nossas paixões entre o cinema e o futebol.

Fazíamos o percurso entre os cines Cassino e Moderno, próximos um do outro, e, no domingo, a matiné do úlltimo era ponto de ajuntamento para se assistir os filmes, vender e trocar revistas em quadrinhos.

Quantas coleções tiveram que ser vendidas, em caráter de urgência, a preços de liquidação, para assistir os seriados “Os perigos de Nyoka” e “A sombra do Escorpião”

Entanto, mais importante era o filme principal.

O cine Moderno, do “Seu” Macário de Brito, antes da reconstrução que o tornou o melhor cinema do Cariri, ficava pequeno, quente e desconfortável para atender o público formado pela garotada.

Mas, valia a pena, até mesmo sentar no chão para assistir as aventuras de Durango Kid (Charles Starret), Rocky Lane, Roy Rogers, Gene Autry, Cavaleiro Negro, Zorro, Hopalong Cassidy e Rod Cameron.

Eram “os filmes de faroeste”, também chamados de “bang-bang”, acompanhados com aplausos, gritaria e apupos, por uma torcida juvenil, que não sabia o que era desgosto.

E, de quebra, ainda tínhamos Gordon Scott, o nosso Tarzan preferido, com uma cabeleira e músculos de fazerem inveja.

Só que os grandes lançamentos de Hollywood não chegavam para o “bico da meninada”, por serem exibidos no horário noturno.

Filme para ser bom tinha que ter muita troca de socos, tiros, perseguições emocionantes, com a montaria de cavalos tão famosos quanto os artistas principais.

O melhor dessa festa toda era “contar o filme” para quem não o assistiu, introduzindo os exageros das lutas dos homens da lei contra os malfeitores.

Quando vou ao Crato, diante dos cinemas que não funcionam mais, faço uma regressão e me sinto (juro) naquela atmosfera de felicidade de minha infância, com o recheio das lembranças que nos são caras, ainda hoje.

Tudo era muito bom.

E nós sabíamos disso.