Juazeiro do Norte, a exemplo de outras cidades do interior, teve, em certa época, uma considerável fauna de tipos pitorescos e sem juízo.
Miguel morava no bairro São Miguel e partia para o centro da cidade nas primeiras horas do dia.
Estatura mediana, magro e barbudo, andava sempre com uma cruz nas mãos. Usava vestimenta branca, de tecido grosso. A camisa tinha quatro bolsos.
A calça era regulada por um cordão de São Francisco, arrochando a cintura.
A cada dia, levava uma mensagem nova para a plateia que o escutava. Uns, achavam que era louco e lhe davam alguns trocados. Outros, tratamento dispensado aos profetas.
Constava de seus discursos uma "performance", como a de rodopiar, fazendo seguir um longo assovio, cruz na mão, apontando para alguma direção.
Foi o que fez, certo dia, apontando a cruz na direção da agência do INSS, na rua Santa Luzia, proferindo a frase: "Aqui, é uma organização desorganizada !"
Como quase em frente estava uma agência lotérica, virou a cruz em sua direção e disse no mesmo tom: "Aqui, é uma desorganização organizada!"
Os que o cercavam viram sentido em suas palavras.
É para isso que servem os profetas das ruas.