Nunca consegui esquecer, apesar do tempo em que ocorreu, da confissão de um dirigente de grande clube, tentando me convencer de que o lugar do futebol cearense estava reservado na segunda divisão.
Alegava, com abundância de números (os seus números), o que seria pago a treinadores e jogadores, após o pulo da segunda para a primeira divisão, deixando-me, até certo ponto, incrédulo com tais somas.
Nesse tempo, é preciso registrar, nossos clubes – Ceará e Fortaleza – não tinham receitas robustas e, em parte, dependiam dos mecenas que os patrocinavam, advindo daí o receio de tal dirigente.
Essa confissão deixou, por muito tempo, nossa abençoada cabeçorra um tanto quanto agoniada, por imaginar que seria difícil imaginar o nosso futebol num patamar de destaque nacional.
O tamanho do futebol cearense, em termos de Nordeste, era medido com relação ao futebol de Pernambuco e Bahia e, apesar de vitórias localizadas pelos clubes e seleções estaduais, sustentávamos um honroso terceiro lugar.
Isso nunca nos bastou, principalmente, depois das profundas mudanças nessa paixão nacional.
Ora, se tínhamos dois clubes de enormes torcidas, estádios modernos e um ávido público consumidor, só ficava em falta uma coisa fundamental: gestão.
Sempre sustentei que, com essas bases, Fortaleza e Ceará teriam que estabelecer o que almejavam ser, e dizer alto e bom som que lugar desejavam ocupar no cenário nacional.
Não havia por que insistir em políticas de verniz amadorista, dependentes do bolso abastado de empresários torcedores.
Em algum momento, se deu esse entendimento e o futebol cearense acabou dando um passo consciente, sem, no entanto, ir além dos seus sapatos.
O medo do abismo (da série B para a A) foi desaparecendo, a partir do momento em que a receita dos clubes aumentou e os obrigou a um aparelhamento moderno e gestões mais profissionais.
É bom lembrar, sem nenhuma satisfação, que estivemos até na terceira divisão.
Sempre insisti nas minhas crônicas, que nunca o futebol no Brasil teve tanta receita advinda do marketing, TV, venda de jogadores e bilheteria.
A questão era de saber usar a pólvora em lindos fogos de artifício, ao invés de estragá-la em artefatos de menor duração.
Confesso que, a principio, fiquei assustado com os estratosféricos balanços financeiros provenientes de tal mudança, talvez, preso ao medo daquele dirigente, que num passado recente, afirmou ser o nosso futebol condenado a figurar numa segunda divisão.
Ainda bem, chegamos a um novo tempo e figuramos com Fortaleza e Ceará num cenário quase inteiramente modificado por práticas de moderna gestão.
A respeito da disputa regional (Pernambuco e Bahia), além da segunda maior média de público do campeonato brasileiro 2019, Ceará e Fortaleza, em termos de folha salarial, só perdem atualmente para o Bahia.
Uma mudança e tanto, resultante do pensar futebol, também, fora de campo, o que tem rendido uma boa imagem país afora.
Mas, fica o lembrete: mais difícil que alcançar o sucesso é mantê-lo.